“Admeto fica parado,
primeiro,
depois quase levanta o
braço, mas contém-se,
É um amigo de Admeto
que impede que o
[braço suba
acima da mais antiga
das convenções e do
[bom senso.
Um pai permanece pai e
filho, filho,
Até que um dos dois
morra e passe pelo menos
[um século
por cima de tudo o que
é cortesia e normalidade;
mas enquanto tal não
sucede, enquanto esse tal
[século não passa,
não há troca possível
de posição desse bem essencial
que é o sangue.
Quem primeiro pousou
os pés no solo é mais velho,
e tal tem consequências:
o braço do filho não
pode subir mais alto
[que o braço do pai,
assim ditam as leis
não escritas, mas que ninguém
[esquece.”,
Gonçalo M. Tavares in "Os Velhos Também Querem Viver"
Eu pela minha parte nunca sentirei falta de "narrativas mais convencionais". Talvez seja porque me interesse sobretudo pela literatura de Gonçalo M. Tavares como mapa filosófico sobre e do real. Já as histórias faço-as eu, se tiver pachorra.
O mercado (o Natal, agora) exige do Gonçalo M. Tavares ou do Herberto Hélder aquilo que exige da Margarida Rebelo Pinto ou do Murakami. Neste espaço da venda, as palavras parecem, ameaçadoramente, tornar-se todas iguais, assim como todas as televisões mostram a estátua no nosso "cristo" Ronaldo, assim como nessa estátua estão todos os traços e linhas do herói igual e intercambiável: de Tom Cruise a David Beckham, o herói hoje quer-se apenas um. Na Madeira, o filho da terra subiu mais alto do que o pai e o filho torna-se pai, a Madeira nasce da semente de Ronaldo, nesta festa orgiástica de consagração em tempo real. Quem pôs primeiro os pés no solo?
No jogo das diferenças, uma estrela ao livro "Os Velhos Também Querem Viver", além da reprimenda dura ao bom aluno e do fascínio contra hype, parece um pouco fazer parte da demissão dessa tarefa da procura da diferença naquilo que se quer igual, da distinção dos traços de cada rosto e dos tijolos de cada façanha.
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