segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Imagem sem espectador

Apanhei uma citaçãozinha do livro "Poética del Cine" (2000) do Raoul Ruiz onde este escreve que hoje o espectador de cinema se converteu num connoisseur. Conhecedor na medida em que sabe o que está a acontecer, antecipa as acções porque interiorizou as regras do "jogo", quer por as ter aprendido quer por intuição. O cinema comercial pressupõe assim, diz ele, uma comunidade internacional de connoisseurs e um conjunto de regras para o jogo da vida social. Nesse sentido, o cinema comercial é o espaço social totalitário por excelência.



Esta ideia dos espectadores como experts de um cinema em relação dialéctica com o social não deixa de me fazer desenterrar a velha querela dos críticos versus espectadores. Se o Raul Ruiz está certo e os espectadores se tornaram em experts do cinema, talvez o crítico devenha "crítico da vida" ou da "mise-en-scène" social que a sétima arte quer construir e na qual quer modelar todos estes especialistas da imagem sem espectador. Isto é, dos que olham, expropriados da sua própria visão.

2 comentários:

  1. Mas o espectador que já sabe o "jogo" tb acaba por se cansar... esses não têm vida longa, não é?

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    1. Esses, quais, os espectadores? Não sei se percebo o que queres dizer :)

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