- E Agora? Lembra-me de Joaquim Pinto
- Mommy de Xavier Dolan
- The Congress de Ari Folman
- The Immigrant de James Gray
- Història de la meva mort de Albert Serra
- Maps to the Stars de David Cronenberg
- Only Lovers Left Alive de Jim Jarmusch
- L’image manquante de Rithy Panh
- The Babadook de Jennifer Kent
- Boyhood de Richard Linklater
Cada vez que tenho de fazer um top de qualquer coisa vem-me
sempre à cabeça que o ano que colocamos a seguir à expressão “top” é tão
importante quando esta. Isto para dizer que há algo de prospectivo
nesta tarefa respigadora: por que filmes queremos nós que cada ano se
recorde? Se acreditarmos que a lógica de mais um ano, corresponde a um
avanço (mas não necessariamente melhor, como com os ideólogos do
progresso) então há que ter o terceiro olho aberto para esses sinais de
movimento, de um sítio para outro, neste caso de 2013 para 2014. É
neste sentido que não me revejo inteiramente na posição maioritária que
coloca sistematicamente no top apenas filmes que recuperam,
declinam ou actualizam o cânone. Como se no futuro estivéssemos
condenados a apreciar somente a grandeza de John Ford ou a astúcia de
Hitchcock (e os “bons alunos” que a eles se colam) ad aeternum.
Paradoxo de um cânone imóvel da arte das imagens em movimento. Contudo, pur si muove. Este intróito explica o raciocínio que me leva a deixar
de fora filmes que assentam na “solidez narrativa”, no “desenvolvimento
das personagens” ou “re-aquecem um determinado clima cinematográfico”.
Curto e grosso: Fincher, Garrel, Reichardt, Leigh, Vítor Gonçalves,
mesmo Wes Anderson desta vez, este ano assinaram todos bons filmes
(alguns dos quais gosto genuinamente, por exemplo A Vida Invisível
é um deles) mas promovem, pelo seu estilo, valores, posição, uma certa
imobilidade do cânone contra a qual eu me bato e é e por isso que ficam
de fora.
O ano foi muito melhor do que a “seca” do ano anterior. Tendo ainda por ver alguns filmes que pelo buzz poderiam ter assento nesta tribuna – como são os casos do celebérrimo Cavalo Dinheiro
de Pedro Costa, os últimos dois filmes do já saudoso Alain Resnais ou o
genial-ignóbil Joshua Oppenheimer – nunca mais me saiu da memória o
caderno de apontamentos do Joaquim (e do Nuno) como alguém que podia
estar a trabalhar sobre a exaustão, até por ser um tema recorrente do
ano (Cronenberg, Jarmusch, Folman), mas decidiu filmar a vitalidade do
quotidiano com uma honestidade difícil de esquecer. E é por que não me
esqueço dele, porque o lembro, que está no topo. Outros temas do ano: a
maternidade ou a animação como um espaço do desancantamento. No
primeiro, Xavier Dolan assinou um filme incrível, sobre uma mãe que tem
de lidar com um filho hiperactivo. O mais extraordinário num jovem de 25
anos já com 5 longas-metragens é essa indiferença perante os que
criticam, cononicamente, a sua “vaidade” e excessiva experimentação. The Babadook
é o filme de terror do ano sobre a simetria dos sustos na infância e na
idade adulta. A maternidade e paternidade é ainda também parte do tema
do filme de Linklater (um cineasta que nem gosto particularmente) mas
que inaugura um método “esquizofrénico” de produção e que tem de ver
esse esforço inaudito premiado. Sobre o segundo tema, o contraste entre
a falta de imagens, o excesso de mortes e a candura dos bonecos de
argila de Rithy Panh colocam os sentimentos de qualquer espectador num milk shaker do qual já não se sai direito. The Congress é
um filme visionário, intenso, sensível que continua a pontuar
a angústia da desmaterialização, desta feita no cinema. (Reparei que não
tenho espaço para louvar o “melhor cineasta do mundo”, Albert Serra,
mas não faz mal pois ele sabe fazer isso bastante bem.)
(publicado em À pala de Walsh)
Sem comentários:
Enviar um comentário