"No passado sábado, no
Jornal, marcámos uma reunião para avançar com o Dicionário, 4º feira, às 17:30.
Todos de acordo, tudo muito bem. 4ª feira levanto daqui com a Tribo quase toda
às cinco e meia da madrugada, seguimos para a Capital onde chegámos às 8 da
manhã. Estou no Jornal às 10 (da manhã) para confirmar a minha chegada,
confirmar a reunião, dizer que teria de regressar às 8 da noite, por causa da
família, etc. Ninguém dos reuniantes se encontrava na Redacção. Começo a
telefonar. Ninguém. Às 16 volto à Redacção. Ninguém. Às 17 chega o Doutor.
Avisa logo que tem de sair às 19 para regressar às 20:30 (depois se soube, foi
visto, que ele dá uma foda todas as quartas-feiras, àquelas horas, numa mulher
gorda). Começo a ver que a reunião é mirífica. Telefona o Bruno: resumindo
sabe-se que estiveram, ele e o Lima, numa noitada maluca com os Herbertos, um
italiano, vinhos no Hotel Borges e que o Lima ficara lá e só chegava às 19; o
Bruno viria também às 19. Como já não estava o Doutor, nem tinha dinheiro para
o regresso resolvo ficar em Lisboa com a Tribo, pagar pensão (paciência!),
fazer a reunião e levantar dinheiro por conta das fichas do maldito
"Dicionário" e da colaboração. Chega o Bruno, às 19 e tal. Pouco
depois telefona o Lima, ainda no Hotel Borges. O Bruno de seguida telefona à
Margarida e vai dar uma foda. Eu fico fodido de todo à espera que estes três
cavalheiros ejaculem. Aproveito e faço telefonemas. às 20:30 e picos, começam a
chegar, algo fatigados, os fodilhões. De que se trata no momento, é de jantar
,reparar forças. Mas falta o Lima. Começamos à espera do Lima, para jantar (eu
estava admirado que, neste transe, ele não desse sinal de si; deu); às quase
dez horas, telefona o Lima. Tudo para o Leão de Ouro, para jantar bem, antes da
trabalhosa reunião e depois da fodilheira matiné. Pego num táxi e meto a Tribo
na pensão da Madalena, todos a dormir; e vou comer lampreia à minhota que às 22
e picos me faz o efeito de chumbo nas tripas.O jantar, entre muita treta por
causa da ópera, prolonga-se. À sobremesa, o Bruno alvitra que, por estarem
todos muito cansados, o trabalho da reunião não iria render... o melhor era ser
adiada. Ainda esperei que o Mecenas também prejudicado como boss naquela casca
de banana reagisse. Concordou logo!... E marcou-se nova reunião para hoje,
sábado, ao meio-dia, a que jurei faltar com os meus botões, desse lá por onde
desse. Como estávamos todos muito cansados (e eu, também, que acordara às cinco
da manhã) mas como a lampreia é pouco recomendável para tornar os sonhos mais
alegres, decidiram ir para um lugar pacato conversar. Viena Bar. Uisques para
os senhores, água do luso para este teu amigo. A conversa ignorou
sistematicamente temas do "Dicionário" ou do Jornal; caiu-se de
chofre na teosofia, Karma, e outras merdas pós-terrenas, astrais de 2ª, e 20ª
categoria. Por esta altura, eu só tinha ouvidos para tanto dislate e esta
pergunta na cabeça: quanto é que eu vou sacar no fim de tudo a estes filhos da
puta? Eram já quase duas da manhã, e depois de todos cansadíssimos de discutir
se os mundos eram habitados ou não, mas um pouco mais aliviados do peso da
lampreia à minhota, cada um recolheu a suas casas. Meti na algibeira
150$00+10$00 (do mano Alexandre) recebidos contra, só em passagens e pensão
210$00... Vale a pena trabalhar para estes foliões da Trampa?"
Excerto de uma carta de Luiz
Pacheco a Mário Cesariny, in "Pacheco versus Cesarini"
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