«Il Sorpasso» é seguramente um filme que encontrou uma metáfora certeira no ritmo e na acção de ultrapassar para definir a sociedade italiana dos anos 60 a entrar na aceleração da concorrência e do capitalismo. Mas Risi, com especialização em psiquiatria, sabia bem que tinha ele próprio de «ultrapassar» a oposição rápido-lento, inibido-extrovertido se quisesse que as personagens de Gassman e Trintignant não ilustrassem uma qualquer lição moral que tivesse de fazer uma escolha entre o carpe diem e o live fast die young. Talvez por isso seja tão difícil de explicar o que sentimos pela voracidade inocente de Bruno ou também qual a verdadeira força trágica daquele Lancia Aurelia Sport e seus alegres «gritos de buzina». Um elemento mais pacífico, creio, é o de «ultrapassar» uma visão de drama e seriedade para o cinema italiano da época apenas assente no neo-realismo. Andar «mais rápido do que» os dramas realistas da pobreza, podia mostrar que a «commedia all'italiana» podia ser tão ou mais eficaz na capacidade de denunciar ou desmontar os traços de uma sociedade. É nesse aspecto que «Il Sorpasso» é uma comédia extraordinariamente séria. E talvez nem fossem precisos acidentes para nela vermos esse abismo que depois se literaliza.
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