terça-feira, 25 de abril de 2017

Abelhas tímidas


Quando em modo de socialização - numa festa ou evento qualquer - há sempre aquele momento em que, ou eu ou o meu interlocutor, terminamos a nossa breve troca de palavras com um "até já" ou "vou só ali". As variações possíveis não são muitas. O objectivo é pôr um ponto final na conversa para podermos deambular um pouco pelo espaço, farejar outra vítima, e recomeçar o processo da micro-conversa de ocasião. Mesmo que a maior parte das vezes até possa ficar aliviado com a tormenta que é falar com uma pessoa com a qual, muitas das vezes, não tenho grande familiaridade, há qualquer coisa de triste nestes dia-logos  curtos e performativos que acabam à faca. Se sou eu que estou a gostar da conversa e é a outra parte que a corta é a decepção. Se a coisa se inverte, não há como não sentir um mal-estar, uma consciência pesada pelo descarte, pelo "desculpa lá, mas agora quero mudar de parceiro." Estes ritmos da sociabilidade têm qualquer coisa de polinização, de sexualização das palavras. Somos abelhas tímidas, ferozes, pousando em flores entusiasmantes, decepcionantes. No final só queremos o mel do estímulo intelectual, da oportunidade de nos dar a ver, e, para isso, pouco importa o que fazemos para o obter. Mesmo acabar com o melhor de nós: a troca.

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