Atenção aos militantes da brigada do politicamente correcto. Vi ontem na Cinemateca «Os Lobos» (1923), uma das obras mais importantes do cinema mudo português, e parece que o seu autor Rino Lupo compara os homens conquistadores a lobos e imagine-se (!) as mulheres a inocentes e fracas ovelhas. Mas para apaziguar eventuais fúrias digo-vos para reparem nos planos das encostas da Serra da Estrela, do sol e dos sinos, todos tão bonitos. E já agora, para se fixarem nos intertítulos poéticos que procuram habilmente disfarçar um certo moralismo da história. O João Bénard chamava-lhe :«a criação de uma poética à margem do argumento ou até contra ele». Fora de ironias, «Os Lobos» é um filme que tem algo de sobrenatural, mesmo no tratamento dos espaços. Desta forma ele cresce muito para além do que nele também se pode ver: um certo retrato de um Portugal humilde e de sentimento à flor da pele.
Sem comentários:
Enviar um comentário