Creio ser mais ou menos consensual que o modo de expressão individual nas redes sociais se destina menos a partilhar ideias e mais a obter, em primeira instância, e de forma mais ou menos instantânea, um concentrado de carinho, admiração e atenção. Digam-nos que somos bons, interessantes, perspicazes, atentos, e façam-no em público, para que toda a gente o possa ver e seguir o mesmo caminho. Neste trajecto diário de nos endeusarmos várias vezes ao dia, penso na delicadeza dos posts de homenagem quando alguém morre. Não defendo que as pessoas são hipócritas, acho mesmo que são momentos justos para relembrar alguém e que o fazemos de boa vontade e boas intenções. Contudo, apesar dessa boa vontade, o propósito narcísico do registo «expresso-me logo sou admirado» mantém-se. Talvez por isso seja tão delicado usarmos, ainda que inadvertidamente, a morte de outrem para capitalizarmos as nossas pequenas vaidades. Penso nisto e penso também que no meio do barulho, o silêncio talvez também seja uma forma possível de homenagem.
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