domingo, 9 de abril de 2017

Rubrica: Árvore da Cinefilia


Uma das coisas que sempre me fascinou na cinefilia é a sua pura anarquia. O amor, pouco ou nada se explica, e então quando as imagens se começam a mexer, irrequietas, as vozes logo se fundem com a natureza, os actores com o enquadramento, os gags com as lágrimas e por aí adiante. Depois, esse amor pelo cinema esvoaça por entre outros amores ou pela dureza da realidade, pelas nossas angústias do quotidiano, os sonhos, a dureza dos assentos, o sono da noite, a lista não tem fim. É afinal desses jump cuts, destes faux raccords que o espectador-Penélope vai fazendo e desfazendo uma qualquer relação com o cinema. Uma relação que não distingue necessariamente verdadeiro e falso, boas e más formas de filmar, estimulação intelectual e fetichismo rasteiro.

Há pouco menos de um ano postei aqui no blogue este plano de «Febre Tropical» (Sud Pralad) de Apichatpong Weerasethakul. Dizia que esta árvore representava um pouco do que era para mim o cinema do tailandês. Reevoco agora esta imagem para lançar uma nova rubrica aqui no Ordet, a que darei o nome de «Árvore da Cinefilia». Ao longo dos próximos meses, sempre ao domingo, convidarei um amigo cinéfilo a escolher um filme e a contar-nos porque razão esse filme ocupa um espaço especial na definição da relação que entretanto estabeleceu com o cinema. A ideia é irmos desvendando mais sobre as relações de cinefilia e que, com este acervo de textos que se irá constituir, observar de perto uma «grande e maravilhosa» árvore da cinefilia, algo que se constitua como um mapa de imagens e afectos, navegável, disponível a todos, feitos por todos. 

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