Em Helsínquia, por entre a neve e o frio delicioso, os carrinhos de bebé são enormes e rolam pelos passeios enregelados.
Em Helsínquia, o vermelho vivo, o verde forte, o amarelo intenso são as cores dos bares, dos restaurantes, dos cantos. São as pinturas lutadoras contra os fogachos de sol. O sol vê-se como lebre parada no cimo do monte ao crepúsculo, ou candeeiro em extinção que se ilumina ao final da tarde, de repente, numa janela esquecida.
Em Helsínquia, as palavras são pesadas. As pessoas carregam-nas como cruzes nas ruas e dizem «desculpe», ou «com licença», com a certeza por detrás do olhar que o silêncio é dourado e muito mais quente.
Em Helsínquia, medita-se nas saunas, nos mergulhos, nos vapores, numa celebração do calor e da água que ascende ao céu, em devolução.
Em Helsínquia, as agendas de cada um têm marcado as datas importantes em que é preciso içar a bandeira. Subir, descer, sem tocar o chão ou a vertigem de uma altura impossível. Não se celebra um país, antes um espaço e uma altitude que sobe e desce consoante a respiração de uma comunidade.
Em Helsínquia, os cães sentam-se no chão dos bares, satisfeitos, de língua de fora, junto dos seus donos. É a poesia que se escreve com a carne e com a pedra, directamente, uma poesia sem poema.
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