sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O sabor da faneca

O pai, sabia, deitava-se na cama de palha e de escassez,
já ele, emprestava o lombo ao aço indestrutível.
Da sua nave, desde pequeno que podia ver a mama da moça,
o futuro dourado com dentes podres no horizonte da fábula,
descarregar seus fluidos electrónicos,
e navegar sem parceiro no rio dos mortos.
Nas primeiras noites sentiu-se quente e capaz,
gatinho ao serviço, de miar audaz.
Nas segundas noites os ossos dos pés,
quebraram-se, caules de junquilho.
Nas terceiras noites já chovia suavemente na almofada,
e já nem festejava os golos do Manchester.
O ecrã ainda reluzia como eterna joia,
e nele procurava uma qualquer boia.

Os cais estava frios quando os pais neles punham os pés,
o que fazer com tão pouco?
As camas estão a ferver quando os filhos nelas jazem,
o que fazer com tão tanto?

Havia que rezar pedindo o cataclismo, a miséria, a cólera
como esperados frutos, esperadas flores.
O martelo do dia seguinte revolvia as vítreas entranhas,
acompanhava com um vinho de borgonha, uma arca de
prateadas delícias e o sopro gangrenado de um andar imaginado.

Oh, delicados impacientes deste mundo,
só o tempo vos trará o pleno sabor da faneca.


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