Fale-se de fundações, mecenato e crowdfunding para salvar a comunicação social, está tudo muito bem. Mas por favor não me venham com a questão
dos suportes. Aliás, a solução corrente não tem apenas o digital como alvo. Ela tem vindo, grosso modo, a tratar o jornalismo
como trata a arte: os "inúteis" têm de ser subsidiados. Ora, apoio a solução, é
uma questão de sobrevivência. Mas há que ter olho alerta para este
"empurrão" da comunicação social para o campo da arte no que toca aos
seus modelos de financiamento. É um bem comum? Claro que é. Aliás, nunca
deixou de o ser. Esse é mesmo o problema. Estas soluções têm o condão
de vermos recuar perante a lógica económica a fronteira de um
pensamento crítico. Antes a arte era ineficaz, sim, percebe-se. Mas
agora coloca-se o problema da ineficácia do jornalismo. Ineficaz? Para
quem? Para quem detém a empresa que sabe que se deve escrever o que lhe
dá dinheiro ou nada... E a isenção, o código deontológico e a dúvida
necessária à investigação? Ineficazes pois. O dilema do jornalismo
mostra como recua para o território da ineficácia económica o pensamento
crítico, qualquer que ele seja. Estes modelos de gestão — num
processo crescente de matematização e economicização integral do mundo e
de todas as áreas do viver — fazem recuar perigosamente todos os
valores críticos e de discernimento para a esfera da ineficácia. Cabe
então ao milionário, máximo jogador do sistema da eficácia, abrir
pontualmente os cordões à bolsa, deixando existir o que é realmente
humano ali no "parquinho-fundação" que ele criou, para que todos o vejam como o
santo e benemérito do seu tempo.
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