terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A espera


10:20. Não era a hora do relógio, nem da manhã nem da noite. Não era sequer a hora interior, como vislumbram alguns que sabem sempre onde está o ponteiro do relógio, semicerrando os olhos e fazendo uma aposta interior. Esses são os apostadores do tempo. Ele não. 10:20 era o tempo que mostrava o placar, que lhe indicava quanto faltava para chegar o seu metro. Tinha coisas para fazer. Era importante. Pelo menos era o que achava. E por isso, 10:20 era algo quase impossível de suportar. Leria? Enxergaria as pessoas que se iam acumulando na plataforma? Concerteza foi fazendo ambas as coisas, enquanto voava o anúncio da mensagem do "estamos a experienciar perturbações em toda a linha..." Toda a linha perturbada, perturbação geométrica, perturbação meteorológica? Sabia o motivo do horror dos dez minutos, da paragem: os trabalhadores estavam reunidos para decidir se haviam de parar todos e a sério. Como certos pássaros que fazem aquelas formas bonitas ao voar em conjunto mas ninguém repara neles excepto quando aparece numa revista. Sentado, olhou o placar uma vez mais e pensou: a espera é a espiritualidade dos derrotados, mas a acção a caligrafia dos selvagens. Puxou a cabeça ligeiramente para cima para tentar vislumbrar, por entre as paredes do metro, as figuras em voo dessas tais multidões de pássaros. Não tendo distinguido nada, nem mesmo no céu da imaginação, mirou novamente o placar: 9:20. Esperou.

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