terça-feira, 22 de maio de 2012

Dark Shadows- Tim Burton


A cada novo filme de Tim Burton há uma dúvida que começa a instalar-se: como distinguir a recriação artística do mesmo tema como marca de autor e o labirinto obsessivo e laxante de figuras que compõem um imaginário formal? Esta nossa inquietação conduz-nos a uma outra: como sobrevive o autor de Nightmare Before Christmas no interior de uma Hollywood que a cada pirotécnia audiovisual se expõe cada vez mais como “máquina de impossibilidade” a mostrar a catástrofe sistemática da experiência estética do cinema?  Há que perceber que a estética digital no cinema é ainda só um bebezinho a fazer “birras estrondosas”. Ela apenas ainda tenta mimar esteticamente os mecanismos fragmentários de (des)atenção do humano, com esse movimento incessante, rápido, inebriante. Se o movimento está na base da e-moção, os próximos anos desta estética perceberão necessariamente que essa emoção, pode ter como base exterior um aturdimento visual, mas precisa de construir a sua dimensão interior. O cinema neo-clássico ainda não consegue criar ficções que reencadeiem politicamente o espectador. Resultado: nobody cares, yet.

Perante isto, tudo é invadido de um “colesterol narrativo” que serve o efeito. Em Tim Burton, perfeitamente imerso neste universo, o efeito é interessante. Isto porque já desde o início da sua carreira que o norte-americano é sobretudo um experimentador plástico, cromático, numa carreira de homenagem ao género fantástico, aos ambientes série B, reescrevendo o seu imaginário gótico-familiar (infantil?) por sobre essa herança. É mantendo essa sua posição de iconoclasta que Tim Burton consegue “sobreviver” na paisagem mainstream como autor munido do seu ator fetiche, Johnny Deep, que vai modelando, multifacetando como rosto chave desta tarefa em continuum de revisitação do imaginário fantástico. Neste árduo trilho de sobrevivência de um “artesão”, Dark Shadows, para além de uma coleção interminável de referências ao género, que vai deste Deep-Nosferatu a True Blood, e da premissa de choque e gag de um vampiro do século XVIII que acorda nos anos 70, pouco tem a dizer. Ou melhor, toda a construção de cenários, da composição em profundidade ou do esoterismo da representação (todos gozam muito, especialmente Eva Green, com esta oportunidade de se ser “inteligente” no seio de uma oportunidade desmiolada), que é o que é verdadeiramente “dito” em Dark Shadows, surge acabrunhado nesse borrão narrativo que os envolve. O carregamento energético de detalhes redundantes acabam por homogeneizar um bonito “bolo” digital que parece a cada momento querer extrair as suas impurezas, isto é, a presença humana. Os atores de carne e osso, por mais malabarismos que façam, estão sempre em background como presença incomodativa parecendo introduzir no sistema uma falha incompreensível. Desta feita, a criação de ambientes parece transcender o efeito da sugestão e funcionar como recreio para entreter as criaturas em que se tornaram os espectadores. No fundo, se são capazes de me perdoar a expressão, é como se estivéssemos a ver um Tourneur só que explicado para atrasados mentais.

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