Após
dez dias de cinema de chancela indie
que permitem ao panorama semi-claustrofóbico da distribuição nacional (e
lisboeta) respirar um pouco, deixem-me que alinhe algumas ideias sobre a nona
edição do IndieLisboa.
Mantendo
a concorrência sobretudo do Lisbon & Estoril Film Festival e até do
Doclisboa pela exibição de algumas obras, este é um festival que soube ao longo dos anos
posicionar-se muito bem e crescer sim mas nunca desvirtuando o seu espírito,
nem as relações de cumplicidade com certos autores, programadores e festivais
(como o demonstrou a interessante homenagem este ano à Viennale). Além de
termos tido a oportunidade de continuar a seguir a obra de realizadores que
dispensam apresentação como Ferrara, Herzog, Solondz, etc, e nomes ainda
semi-desconhecidos com enorme potencial como Dominga Sotomayor, Radu Jude, Jessica
Krummacher, parece-me relevante colher lições do ritmo e energia do festival.
Quanto ao seu ritmo diga-se que em muitos casos (não vou adiantar nomes) os
festivais crescem ao ponto do gigantismo, de se tornarem incomportáveis na sua
dimensão para o público. Quero dizer que passa a ser impossível a muito público
sair destes festivais com alguma impressão que apanhou os momentos mais
relevantes do mesmo, tal o número de eventos e sessões. Um bom exemplo da
dimensão mediana, exceção à minha regra de não referir exemplos, é o sentimento
agradável com que se sai de um festival como o MOTELx. O IndieLisboa, sendo um
evento maior, penso ter sabido crescer
de forma consequente, não fazendo do Festival apenas um megaencontro de
personalidades das diferentes áreas do cinema, privilegiando a existência de
duas ou três rotas possíveis, não mais, criando assim a ideia aos seus
espectadores de que poderiam viver (e ver) algo em comum. Em segundo lugar
gostaria de escrever uma coisa que se sente mais e se explica menos: a energia
do IndieLisboa, apesar do trabalho árduo, dos inúmeros eventos e convidados,
dos contratempos (que os há sempre), pareceu-me sempre ser muito positiva. É
dessa vontade que parece ainda permanecer pura de mostrar os filmes e os
seus autores que o IndieLisboa se alimenta no sentido de criar uma reunião
cultural benéfica, alheia a influências ou ruídos mediáticos de fundo (sejam
eles económicos, políticos, institucionais, etc.)
Termino
esta minha breve apreciação com os cinco melhores filmes que pude ver no
festival (excluindo obras anteriores a 2011), filmes que caso não tenham
distribuição nacional se aconselha vivamente a arranjar por meios próprios.
1- Vivan
Las Antipodas! de Victor Kossakovsky
2- “Toata lumea din familia noastra" de Radu Jude
3- “De
Jueves a Domingo” de Dominga Santiago
4- “Bestiaire”
de Denis Côté
5- “L’Estate
di Giacomo” de Alessandro Comodian
Publico
ainda um top 5 que reúne as preferências do Ordet, do CINEdrio
(Luís Mendonça), Numa
Paragem do 28 (João Lameira), In
a Lonely Place (Miguel Domingues) e Breath Away (Ricardo Vieira Lisboa).
1 – “Toata
lumea din familia noastra”, de Radu Jude
2 - ”4:44
Last Day on Earth”, de Abel Ferrara
3 - ”Vivan
Las Antipodas!”, de Victor Kossakovsky
4
- ”Michael”, de Markus Schleinze
5 - ”De Jueves a Domingo”, de Dominga Sotomayor, ex aequo com
“L’estate di Giacomo”, de Alessandro Comodin
Fica assim encerrado o capítulo IndieLisboa 2012 e ficamos à espera que esse espírito de independência paire o resto do ano.
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