segunda-feira, 7 de maio de 2012

Balanço do IndieLisboa '12


Após dez dias de cinema de chancela indie que permitem ao panorama semi-claustrofóbico da distribuição nacional (e lisboeta) respirar um pouco, deixem-me que alinhe algumas ideias sobre a nona edição do IndieLisboa.

Mantendo a concorrência sobretudo do Lisbon & Estoril Film Festival e até do Doclisboa pela exibição de algumas obras, este é um festival que soube ao longo dos anos posicionar-se muito bem e crescer sim mas nunca desvirtuando o seu espírito, nem as relações de cumplicidade com certos autores, programadores e festivais (como o demonstrou a interessante homenagem este ano à Viennale). Além de termos tido a oportunidade de continuar a seguir a obra de realizadores que dispensam apresentação como Ferrara, Herzog, Solondz, etc, e nomes ainda semi-desconhecidos com enorme potencial como Dominga Sotomayor, Radu Jude, Jessica Krummacher, parece-me relevante colher lições do ritmo e energia do festival.

 Quanto ao seu ritmo diga-se que em muitos casos (não vou adiantar nomes) os festivais crescem ao ponto do gigantismo, de se tornarem incomportáveis na sua dimensão para o público. Quero dizer que passa a ser impossível a muito público sair destes festivais com alguma impressão que apanhou os momentos mais relevantes do mesmo, tal o número de eventos e sessões. Um bom exemplo da dimensão mediana, exceção à minha regra de não referir exemplos, é o sentimento agradável com que se sai de um festival como o MOTELx. O IndieLisboa, sendo um evento maior, penso ter sabido crescer  de forma consequente, não fazendo do Festival apenas um megaencontro de personalidades das diferentes áreas do cinema, privilegiando a existência de duas ou três rotas possíveis, não mais, criando assim a ideia aos seus espectadores de que poderiam viver (e ver) algo em comum. Em segundo lugar gostaria de escrever uma coisa que se sente mais e se explica menos: a energia do IndieLisboa, apesar do trabalho árduo, dos inúmeros eventos e convidados, dos contratempos (que os há sempre), pareceu-me sempre ser muito positiva. É dessa vontade que parece ainda permanecer pura de mostrar os filmes e os seus autores que o IndieLisboa se alimenta no sentido de criar uma reunião cultural benéfica, alheia a influências ou ruídos mediáticos de fundo (sejam eles económicos, políticos, institucionais, etc.)

Termino esta minha breve apreciação com os cinco melhores filmes que pude ver no festival (excluindo obras anteriores a 2011), filmes que caso não tenham distribuição nacional se aconselha vivamente a arranjar por meios próprios.

1-    Vivan Las Antipodas! de Victor Kossakovsky
2-    “Toata lumea din familia noastra" de Radu Jude
3-    “De Jueves a Domingo” de Dominga Santiago
4-    “Bestiaire” de Denis Côté
5-    “L’Estate di Giacomo” de Alessandro Comodian


Publico ainda um top 5 que reúne as preferências do Ordet, do CINEdrio (Luís Mendonça), Numa Paragem do 28 (João Lameira), In a Lonely Place (Miguel Domingues) e Breath Away (Ricardo Vieira Lisboa).    

       1 – “Toata lumea din familia noastra”, de Radu Jude
       2 - ”4:44 Last Day on Earth”, de Abel Ferrara
       3 - ”Vivan Las Antipodas!”, de Victor Kossakovsky
       4 - ”Michael”, de Markus Schleinze
       5 - ”De Jueves a Domingo”, de Dominga Sotomayor, ex aequo com “L’estate di Giacomo”, de Alessandro Comodin

Fica assim encerrado o capítulo IndieLisboa 2012 e ficamos à espera que esse espírito de independência paire o resto do ano. 

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