É
inegável que face a Texas Killing Fields,
realizado por Ami Canaan Maan, a
filha de Michael Mann, existe a forte tentação de antecipar um talento “quem
sai aos seus”. Tendência reforçada não só pelo dedo do pai na produção do filme,
do argumento de Don Ferrarone (tecnhical
adviser em Heat e Miami Vice), mas sobretudo por se
tratar de uma obra que assenta nas mesmas paragens do policial. E não será
escandaloso começar a traçar hipóteses ainda que o futuro nos prove
errados. Como no universo de Mann pai, Texas Killing Fields exibe uma
atmosfera que extrapola do modus clássico
do género – o metódico procedimento para alcançar o criminoso - e que aqui é
sobretudo direcionada para o poder da lei (moral, cristã, de princípios) ante a
vastidão selvagem dos “killing fields” texanos. Desta feita, a primeira longa -
metragem de Ami Maan parece uma espécie de Blood
Simple de onde de retirou cirurgicamente o humor, deixando o negro e uma
dose maciça de curiosidade e crença. O seu par de protagonistas, os dois
detectives, o crente e o descrente ou o nova iorquino e o texano, avançam no
espaço para descobrir a identidade de um potencial serial killer. Contudo, esse mistério é consumido pela presença
desses campos, plenos de fumo, mortíferos (o espaço a indicar-nos o conflito, a
ser pedaço de um “viver baixo”, sem escrúpulos, vício texano). É nesta
contaminação espacial que evolui a mecânica
das personagens que querem ver, compreender ou refugiar-se desse estado de
vício. Neste, assiste-se a uma “máquina” psico-geográfica em ação: ela mata os
inocentes, mas também se auto-aniquila, oleada, prescindindo da ação policial.
Lembremos que em relação às mortes finais, a justiça é obtida por mão própria
dos “injustos”. É uma ideia ousada esta a da relação constitutiva do homem
interior pelo espaço que o habita, mas não particularmente inovadora: Ford fez
isso com o seu Monument Valley, mesmo Wim Wenders intuiu essa relação para
propósitos de libertação com Paris,
Texas. Contudo, esta intencionalidade de Ami Maan, o querer dar um passo
maior que a perna (leia-se perna aqui como algumas e naturais limitações
técnicas de Texas Killing Fields, desde o rendilhado musical a encobrir muitas
cenas, passando pelo digital de mão nervosa, ao slow
motion como efeito televisivo), augura coisas boas. E mesmo essas
limitações servem, não raras vezes, essa premissa de contaminação, de
eficiência policial e psicológica herdada de linhagem privilegiada. Exemplos? O
contraluz no interior das viaturas da polícia, as máquinas de fumo que quase “vemos”,
embora off, alimentam esse puxa-puxa
de cada detective a querer canalizar o filme para o seu espaço de conforto.
Esta angústia interior das suas personagens e desorientação espacial dos
valores permitem pensar um lugar primitivo onde pode crescer o talento de uma
cineasta. Lugar bem distante da histeria estética e procedimental que inundou o
género policial no local onde este ainda luta para sobreviver, a televisão.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
terça-feira, 29 de maio de 2012
Abriguemo-nos
Embora
não tenhamos visto ainda Shotgun Stories,
o filme que colocou Jeff Nichols na mira da cinefilia, há na sua segunda obra, Take Shelter, um potencial comparativo
com inúmeros filmes, géneros, quase interminável. Não que este seja um mero jogo
de referências mas sim um discurso particularmente hábil na forma de as baralhar, ao ponto de construir um "género" que tudo acolhe. É dessa mistura de
realidades (que compõe no fundo a Realidade) que é, em última instância, necessário
“procurar abrigo”.
Curtis
é um homem que prevê a eminência de uma enorme tempestade. Quando confrontando
com esse pesadelo de devastação quer defender a sua família e construir um
abrigo. Esta ideia obsessiva provém de um longo imaginário dos disaster movies que desde cedo trabalhou
uma espécie de complexo de culpa do ser humano face à manipulação tecnológica
da natureza. Obviamente que as duas guerras mundiais, a ameaça nuclear, introduziram
poderosas variações no tema. Recordamos, entre inúmeros exemplos, o episódio da
conhecida série The Twilight Zone
intitulado também The Shelter (1961).
Neste, a ameaça de um ataque nuclear põe várias famílias suburbanas contra a
única que possuía precisamente um abrigo. Se aí a catástrofe era um pretexto
para falar do pânico social, o filme de Nichols já surge num trajeto muito
distante que fala da natureza como sintoma da catástrofe do eu. Melancholia, de Lars von Trier,
abjecte-se ou louve-se, era também isto: a sensibilidade apocalíptica da
extinção da humanidade vertida para um estatuto ontológico. Essa disforia da
técnica mostra, em ambos os filmes, que a “resposta” da natureza tem
consequências interiores. Não é por acaso que Melancholia é um filme que se
segue à depressão do seu autor, ou que Curtis saiba que a ameaça Maior é menos
a natureza, de céu
digital revolto, e mais a linha de aparição/extinção da sanidade e da
loucura. Como documentar racionalmente, na primeira pessoa, a fuga da própria
razão? Supremo pesadelo esse, o de uma técnica que nos permitirá algures, ver-nos a nós
próprios a enlouquecer.
Mas
este trajeto de paranoia é ainda maior, ou surge em turbilhão, expandindo-se
incontrolavelmente.
É
que a tempestade que aí vem é a ameaça da ordem, da materialidade: é metáfora
crise, é metáfora digital, é metáfora de perturbação amorosa. Que fazer com
todo este resíduo poluente da metáfora? Podemos apenas falar do seguro de saúde
muito vantajoso do emprego de Curtis que permitirá à sua filha colocar uma prótese
auditiva ou das férias de Verão para o qual o casal poupa, ou mesmo das contas
feitas a quanto alimento é necessário por semana a um ser humano para sobreviver num refúgio. Podemos apenas pensar nas
condições que Samantha (a esposa de Curtis) põe para não sair de casa. Ou da
introdução das sequências digitais no universo classicista do cinema de Jeff
Nichols e não falar de como chocam. E podemos não o fazer pois não passamos
todo o tempo de Take Shelter à
espera de uma tempestade. Ou de um diagnóstico dos tempos e da pessoa. É possível
que ainda subsista uma certa vontade fetichista de romancear a última noite, os
últimos eventos, a derradeira crise da existência. Contudo, a força que nos
ocupa (nós todos) é bem mais a de perceber que traços permitem ligar todo este “mal-estar”.
E nesse trajeto apocalíptico, de sanidade, Nichols limita-se a mostrar o
enrodilhar como estratégia de exposição. E isso já é muito.
terça-feira, 22 de maio de 2012
Dark Shadows- Tim Burton
A
cada novo filme de Tim Burton há uma dúvida que começa a instalar-se: como
distinguir a recriação artística do mesmo tema como marca de autor e o
labirinto obsessivo e laxante de figuras que compõem um imaginário formal? Esta
nossa inquietação conduz-nos a uma outra: como sobrevive o autor de Nightmare Before Christmas no interior
de uma Hollywood que a cada pirotécnia audiovisual se expõe cada vez mais como
“máquina de impossibilidade” a mostrar a catástrofe sistemática da experiência
estética do cinema? Há que perceber que
a estética digital no cinema é ainda só um bebezinho a fazer “birras
estrondosas”. Ela apenas ainda tenta mimar esteticamente os mecanismos
fragmentários de (des)atenção do humano, com esse movimento incessante, rápido,
inebriante. Se o movimento está na base da e-moção, os próximos anos desta
estética perceberão necessariamente que essa emoção, pode ter como base
exterior um aturdimento visual, mas precisa de construir a sua dimensão
interior. O cinema neo-clássico ainda não consegue criar ficções que
reencadeiem politicamente o espectador. Resultado: nobody cares, yet.
Perante
isto, tudo é invadido de um “colesterol narrativo” que serve o efeito. Em Tim
Burton, perfeitamente imerso neste universo, o efeito é interessante. Isto porque
já desde o início da sua carreira que o norte-americano é sobretudo um
experimentador plástico, cromático, numa carreira de homenagem ao género
fantástico, aos ambientes série B, reescrevendo o seu imaginário gótico-familiar
(infantil?) por sobre essa herança. É mantendo essa sua posição de iconoclasta
que Tim Burton consegue “sobreviver” na paisagem mainstream como autor
munido do seu ator fetiche, Johnny Deep, que vai modelando, multifacetando como
rosto chave desta tarefa em continuum
de revisitação do imaginário fantástico. Neste árduo trilho de sobrevivência de
um “artesão”, Dark Shadows, para além de uma coleção interminável
de referências ao género, que vai deste Deep-Nosferatu a True Blood, e da premissa de choque e gag de um vampiro do século XVIII que acorda nos anos 70, pouco
tem a dizer. Ou melhor, toda a construção de cenários, da composição em
profundidade ou do esoterismo da representação (todos gozam muito,
especialmente Eva Green, com esta oportunidade de se ser “inteligente” no seio
de uma oportunidade desmiolada), que é o que é verdadeiramente “dito” em Dark
Shadows, surge acabrunhado nesse borrão narrativo que os envolve. O carregamento
energético de detalhes redundantes acabam por homogeneizar um bonito “bolo”
digital que parece a cada momento querer extrair as suas impurezas, isto é, a
presença humana. Os atores de carne e osso, por mais malabarismos que façam,
estão sempre em background como
presença incomodativa parecendo introduzir no sistema uma falha
incompreensível. Desta feita, a criação de ambientes parece transcender o
efeito da sugestão e funcionar como recreio para entreter as criaturas em que se tornaram os espectadores. No fundo, se são capazes de me perdoar a expressão, é como se
estivéssemos a ver um Tourneur só que explicado para atrasados mentais.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Balanço do IndieLisboa '12
Após
dez dias de cinema de chancela indie
que permitem ao panorama semi-claustrofóbico da distribuição nacional (e
lisboeta) respirar um pouco, deixem-me que alinhe algumas ideias sobre a nona
edição do IndieLisboa.
Mantendo
a concorrência sobretudo do Lisbon & Estoril Film Festival e até do
Doclisboa pela exibição de algumas obras, este é um festival que soube ao longo dos anos
posicionar-se muito bem e crescer sim mas nunca desvirtuando o seu espírito,
nem as relações de cumplicidade com certos autores, programadores e festivais
(como o demonstrou a interessante homenagem este ano à Viennale). Além de
termos tido a oportunidade de continuar a seguir a obra de realizadores que
dispensam apresentação como Ferrara, Herzog, Solondz, etc, e nomes ainda
semi-desconhecidos com enorme potencial como Dominga Sotomayor, Radu Jude, Jessica
Krummacher, parece-me relevante colher lições do ritmo e energia do festival.
Quanto ao seu ritmo diga-se que em muitos casos (não vou adiantar nomes) os
festivais crescem ao ponto do gigantismo, de se tornarem incomportáveis na sua
dimensão para o público. Quero dizer que passa a ser impossível a muito público
sair destes festivais com alguma impressão que apanhou os momentos mais
relevantes do mesmo, tal o número de eventos e sessões. Um bom exemplo da
dimensão mediana, exceção à minha regra de não referir exemplos, é o sentimento
agradável com que se sai de um festival como o MOTELx. O IndieLisboa, sendo um
evento maior, penso ter sabido crescer
de forma consequente, não fazendo do Festival apenas um megaencontro de
personalidades das diferentes áreas do cinema, privilegiando a existência de
duas ou três rotas possíveis, não mais, criando assim a ideia aos seus
espectadores de que poderiam viver (e ver) algo em comum. Em segundo lugar
gostaria de escrever uma coisa que se sente mais e se explica menos: a energia
do IndieLisboa, apesar do trabalho árduo, dos inúmeros eventos e convidados,
dos contratempos (que os há sempre), pareceu-me sempre ser muito positiva. É
dessa vontade que parece ainda permanecer pura de mostrar os filmes e os
seus autores que o IndieLisboa se alimenta no sentido de criar uma reunião
cultural benéfica, alheia a influências ou ruídos mediáticos de fundo (sejam
eles económicos, políticos, institucionais, etc.)
Termino
esta minha breve apreciação com os cinco melhores filmes que pude ver no
festival (excluindo obras anteriores a 2011), filmes que caso não tenham
distribuição nacional se aconselha vivamente a arranjar por meios próprios.
1- Vivan
Las Antipodas! de Victor Kossakovsky
2- “Toata lumea din familia noastra" de Radu Jude
3- “De
Jueves a Domingo” de Dominga Santiago
4- “Bestiaire”
de Denis Côté
5- “L’Estate
di Giacomo” de Alessandro Comodian
Publico
ainda um top 5 que reúne as preferências do Ordet, do CINEdrio
(Luís Mendonça), Numa
Paragem do 28 (João Lameira), In
a Lonely Place (Miguel Domingues) e Breath Away (Ricardo Vieira Lisboa).
1 – “Toata
lumea din familia noastra”, de Radu Jude
2 - ”4:44
Last Day on Earth”, de Abel Ferrara
3 - ”Vivan
Las Antipodas!”, de Victor Kossakovsky
4
- ”Michael”, de Markus Schleinze
5 - ”De Jueves a Domingo”, de Dominga Sotomayor, ex aequo com
“L’estate di Giacomo”, de Alessandro Comodin
Fica assim encerrado o capítulo IndieLisboa 2012 e ficamos à espera que esse espírito de independência paire o resto do ano.
sábado, 5 de maio de 2012
Dia 9 no Indie - Quando as formigas vão para sítios altos é porque o rio vai subir
Talvez
tenham bastado dois filmes para que o russo Victor Kossakovsky se tenha tornado
um dos maiores nomes do documentário contemporâneo. Falamos de Belovy (1994) sobre a vida de uma
agricultor russo e seu irmão, e Wednesday
19.07.1961, que segue as vidas de 74 pessoas de Leningrado que nasceram no
mesmo dia do realizador. Deste então a cada nova obra as expectativas crescem.
Tal foi o caso com Vivan las Antipodas!,
exibido ontem na Londres na Secção Pulsar do Mundo (repete no domingo,
pelas 14:30, no mesmo Londres). Kossakovsky explica que estava um dia numa
vila argentina e que, ao ver um homem pescar numa pequena ponte, pensou o que
aconteceria se estendêssemos a linha até ao outro lado do mundo, que imagem nos
aguardaria? Nasce assim a ideia de procurar os poucos pontos do planeta onde os
antípodas (locais perfeitamente opostos no planeta em linha recta) correspondem
a duas regiões em terra. Como diz ainda o realizador: "por vezes uma ideia
entusiasma mas a realidade acaba por mostrá-la menos capaz do que pensávamos
inicialmente. Com Vivan La Antipodas!
foi o oposto" e os pares de antípodas (Argentina/China; Espanha/Nova Zelândia,
Hawaii/Botswana, Chile/Rússia) e suas
personagens - pescadores solitários, guardadores de faróis, vendedores de peixe,
agricultores, etc. - habitam os espaços exatos para lhes extrair essas imagens
“opostas” que estavam na mente do realizador. Perante tal realidade há duas posturas. Por
um lado, é possível ser ansioso, amante do sentido e da seriedade convencional,
da “horizontalidade” e não ver no filme no Kossakovsky mais do que poema visual
e sonoro, sem limites ao seu lirismo, histriónico, encantatório, uma jiga joga
que usa o mundo como “recreio” da criação. Mas por outro lado, até pelo cuidado
de citar Lewis Carrol no início, Victor Kossakovky quer abolir a ditadura da
horizontalidade nos seus planos, quer explorar à la limite o uso de sons autóctones rasgando-lhes a origem e
dando-lhes outra dimensão visual (como seria se o tango fosse chinês?),
percorrendo de uma ponta à outra do mundo apagando as metáforas e extraindo dele
linhas, tons, texturas comuns. No Hawaii a lava negra arrefecida assemelha-se à
pele de um elefante envelhecido no Botswana. Na Nova Zelândia uma baleia morre
e vem dar à praia, enquanto no seu oposto, em Espanha, as borboletas pousam na
rocha. Estas imagens que se vão formando e estilhaçando de uma ponta à outra do
mundo, ao contrário de filmes como a trilogia de Godfrey Reggio (Koyaanisqatsi, Powaqqatsi, Nagoyqatsi),
Baraka de Ron Frickle, ou ainda a opus ensemble que é Life in a Day, não querem ser testemunho de nada, nem da beleza do
mundo ou da sua integridade. O gesto da realização de Kossakovsky é outro e por
isso abisma: é sempre na linha da intimidade que o russo trabalha, lutar pelos
momentos de individualismo no maior palco possível, esse tal mundo como “recreio”.
Nota:
dava jeito que gente como Iñárritu, antes de efabular com tantas certezas sobre como
somos assim e assado, como uma espécie de “astrólogo invertido”, desse uma vista
de olhos nisto.
Kleber
Mendonça Filho é crítico, programador de cinema no Recife e após várias
curtas-metragens eis que se estreia no grande formato com O Som em Redor que arrecadou o prémio FIPRESCI no Festival de
Roterdão deste ano. Este “slice of braziliana”, como vem etiquetado, é um filme
bem escrito, em mosaico, que tenta recriar com realismo o ambiente protegido de
alguma classe privilegiada brasileira e os seus “bunkers”, leia-se condomínios
privados com equipa de segurança e tudo. A comandar a "famiglia" está o
ancião Francisco que protege os netos que vivem na mesma rua e ordena o que
pode e o que não pode. Se começámos por destacar o argumento do O Som em Redor é porque ele cria
situações e personagens suficientemente importantes para, sem inovar, poder
expor o que o trouxe a Portugal: a sua montagem sonora como sintoma de
permeabilidade da arquitetura deste espaço,
ela por sua vez sintoma da constituição de redes emocionais assentes em tiques
sócio-urbanos. Agora arrisquemos uma ideia: o filme de Kléber é uma espécie de Requiem for a Dream mais perspicaz pois
prescinde da adição. Naquele, as portas, as máquinas de lavar, os ascensores,
os apitos anti-cães, o barulho de fundo dos plasmas ritmam essa atmosfera de
desconcerto, parecendo poluir o agir do microcosmos que o cineasta brasileiro
tem debaixo de olho. E nesse processo filma-se, helás! a “contaminação
psicanalítica” da riqueza, embora isso já sejam contas de outro rosário...
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Dia 8 no indie - O Verão alemão e o Verão italiano
Basta
ter presente algumas das linhas mestras do história do pensamento alemão, ou
mais particularmente algumas luzes sobre a evolução do seu cinema, para
imediatamente perceber do lugar deslocado que Formentera de Ann-Kristin Reyels não pode deixar de ocupar. Que
ligeireza inaudita é esta que percorre um filme assim sobre sentimentos? Bem
sabemos que o casal de protagonistas, Nina e Benno, está de férias na conhecida
ilha espanhola que dá ao nome ao filme, situada perto de Ibiza, e que estes se
fazem rodear de amigos hippies,
despreocupados, longe do stress de Berlim. A proposta parece ser mesmo essa:
como é que um espaço de liberdade, solar, pode influir nas perspectivas de futuro de uma relação urbana, com
ritmos organizados para o trabalho? Embora a realizadora procure
que os raios de sol se infiltrem nos seus planos e deixe algum tempo para que as
suas personagens percorram e usufruam da ilha, isso não se afigura suficiente
para essa contaminação psicológica. Os planos do casal a andar de mota, os
diálogos durante as refeições com os amigos de Benno, a sequência da festa, o
“sábio” artífice mais velho, os próprios micro-conflitos que crescem entre o
casal não rimam com o espaço psicológico dos personagens, com o seu dilema, e
depois, perto do final, com a sua aparente resolução. A própria solidão,
sobretudo de Nina pela ilha, mas também em Ibiza, é, mais do que um truque de
densidade, ou uma "avventura" antonioniana, um espaço de desolação da própria mise-en-scène.
O
realizador italiano Alessandro Comodin explicou-nos, no final da sessão do seu L’Estate de Giacomo, que foi o facto do
irmão mais novo do seu melhor amigo, Giacomo, agora com 18 anos, ter feito uma
operação para, pela primeira vez, obter algum grau de audição o ponto de
partida para o seu “documentário”. As aspas aplicam-se pois, embora Comodin
tenha acompanhado pedaços de um Verão de Giacomo com Stefania (sua amiga e irmã
mais nova do realizador) no norte de Itália, junto a um rio, os mecanismos de improvisação estão
associados a um feeling ficcional. É
que a observação dirigida do caminhar pelo bosque, das brincadeiras com a água
e areia à beira do rio como formas de desfrutar a vida e de relacionar um
tempo e uma natureza aos temas insignificantes da felicidade, são-no comandadas
pelo olhar de um realizador (28 anos) que já vê esses tempos a uma distância de
“charme”. O que não tira mérito ao filme, pelo contrário, apenas aguça a sua
dimensão ficcional sublinhada pela utilização da música, a escrever nas
imagens, um imaginário pop, a trazê-la para a exaltação de uma infantilização
adulta, como revelado na influência criativa do seu montador João Nicolau, e da
afinidade estética de Comodian com Miguel Gomes. Embora já tenha arrecadado o Pardo d’oro Cineasti del
presente - Premio George Foundation no Festival de Locarno, L’Estate di Giacomo, nessa passagem dos
sentidos pela natureza, pelo desfrute telúrico (também próximo dos universos de
Lisandro Alonso ou até Kelly Reichardt), é também um candidato ao prémio final.
quinta-feira, 3 de maio de 2012
Dia 7 no Indie - Para onde olham os animais e o que vêem?
Mais
um dia de competição e mais uma talhada a essa “coisa” ainda apelidada de
instituição: a família. Desta vez coube ao austríaco Sebastien Meise com Stillleben (Natureza Morta). Bernhard,
rapaz dos seus trinta anos, descobre uma carta que o pai sexagenário escreveu a uma
prostituta. Na carta ele pedia-lhe que fizesse uma data de coisa, como é normal
nestes casos, mas chamava-a de Lydia, o nome da sua filha e irmã de Bernhard.
Está exposto o nó do conflito: o assédio em criança de Lydia pelo pai. Diz-nos
o air du temps que o abuso sexual de
menores começa lentamente a ser mais um tema que o cinema vem desconstruindo,
“embrulhando-o” no discurso que relativiza culpas e julgamentos isentos. Um
pouco como vem acontecendo com o próprio assassínio em série, com algumas obras
de subjetivizam e empatizam o olhar do
criminoso. Digamos de outro modo: um gigantesco movimento que já começou pelo
menos nos anos 60 e que, lentamente, faz ver o “mal”, venha ele de onde vier e atinja seja quem for, como uma entidade digna de
compreensão. Mas não nos afastemos. A primeira obra de Meise tem essa
“preocupação amoral”, sempre expressa através da espectralização das
personagens, dos esparsos diálogos entre os membros da família, dos espaços de
penumbra ou luz sórdida. Percebemos que haja uma natural aproximação ao que o
realizador quer expor mas duvidamos que essa frieza austríaca exposta tenha
algo a revolver no seu interior. Ou por outra, da "natureza morta" em Stillleben, nem assistimos à sua morte,
nem nos parece conter, na formalidade e contenção dos seus planos, alcance
suficiente para essa tarefa de contaminar o maniqueísmo dos atos. Ainda assim,
diga-se que o plano final, sobretudo pela presença de Fritz Hortenhuber (o pai), parece trazer-nos uma leitura
retrospectiva de todo o filme com esse filtro do sentimento, ainda que contido.
Parece é, claro, tarde demais para assumir ou ressuscitar a natureza e as
atrações familiares/sexuais. Embora não tenhamos visto Michael, de Markus Schleinzer, pelo que lemos aqui, a hipótese de uma double bill não seria mal pensada.
Ontem
foi ainda tempo de espreitar o último documentário de Denis Côté, Bestaire. A primeira sequência, cujo
som depois fecha o filme, mostra-nos um grupo de jovens que desenha o modelo de
um animal embalsamado no centro da sala. Quando a câmara de Côté vai para o
exterior, o parque Safari no Quebec, começamos por ver Bestiaire na sua proposta de circuito de olhares: humano, animal,
mecânico (da câmara) e como estes se entre-afectam. Não está em causa um olhar
sobre o espaço que mantém os animais (Zoo,
de Frederick Wiseman, 1993), nem a proposta de equivalência de estatutos
homem/animal (Zoo, de Bert Haanstra,
1962). Antes, o filme do francês parece quer visualmente participar desse
diálogo encetado pelas ciências naturais e humanas, sobre qual a fronteira
ontológica entre o homem e o animal, o que os diferencia, como é que o seu
olhar “fechado”, insondável, é apanhado pelo olhar “aberto” do humano, ou
ainda, pelo olhar sem gaze, da
neutralidade aparelhística da câmara de filmar. Recentemente traduzido entre
nós O Aberto, de Giorgio Agamben,
procura precisamente trabalhar essa fronteira homem/animal, reposicionando fronteiras
e operando uma crítica aberta à maquina antropológica que “embate” sempre nessa forma humana de
posicionar o animal no mundo. Embora o cinema, e especificamente a seleção pela
montagem, não permita a exclusão total do olhar humano, a continuidade do registo
das imagens do olhar animal, da sua presença, possuem esse potencial “inumano”.
Ou pelo menos de dois olhares, o animal e o mecânico em choque, como confronto
de duas presenças imperscrutáveis. Não deixa ainda de ser curioso que é também
quando o ser humano observa e regista o mundo, como na já referida cena
inicial, o momento em que este mais se encontra desprotegido, menos ator desse
tédio, de alteridade que, como refere Agamben, mais revela o aberto no humano
vedado ao animal. O olhar das avestruzes, macacos, lamas, o seu vai vem agitado
ou sereno, o seu movimento no espaço exíguo das jaulas dão a Bestiaire uma forma misteriosa que
conduz a sua montagem simultaneamente para uma “pureza” do género documental e
para um simulacro do que seria o “fechado” de uma obra artística.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Dia 6 no Indie - Às vezes não é fácil sair de casa
Ao
contrário de outros países como a República Checa, Polónia ou Hungria, que
mantiveram algum cinema oposicionista durante o período ditatorial, a Roménia
entre os anos 60 e 80 esteve perto do ocaso total. Não admira então que, após a
queda de Ceausescu, na revolução de 1989, se tenha respirado o "princípio do fim
do mundo", uma espécie de ano zero do cinema romeno. Contudo, haveria que
esperar mais quinze anos até que as crescentes estruturas de financiamento do
seu cinema, aliado à estrutural distância que os principais cineastas romenos,
agora na casa dos 40, mantinham face ao grande trauma do regime de opressão,
dessem frutos. E deram-no mais particularmente em 2005 através do
reconhecimento internacional que The Death of Mr. Lazarescu de Cristi
Puiu obteve através da prémio Un certain regard no Festival de Cannes. A
odisseia sarcástica pelo sistema de saúde burocrático que leva um paciente em
ambulância de hospital em hospital foi o primeiro filme romeno a obter
distribuição internacional em muitos anos e o início “oficial” do que se viria
a chamar o novo cinema romeno. Nos anos seguintes vários nomes importantes
surgiriam como Corneliu Porumboiu (12:08 East of Bucharest), Cristian
Nemescu (California Dreamin’), Cristan Mungiu (4 Months, 3 Weeks and
2 Days), só para citar os mais importantes.
Numa
entrevista há uns anos à Sight & Sound, Cristian Mungiu negava a
existência de um estilo próprio à nova vaga romena. Cada cineasta provinha de
escolhas e valores diferentes embora pudesse existir outras coisas em comum: o
humor, alguns mecanismos de rodagem, a atenção dada à representação, etc. Seja como
for, a revolução de 89 foi um impulsionador natural do universo criativo deste
grupo de cineastas, sendo que o retrato da realidade romena, surge pelo filtro
seguro, anti-traumático, da tragédia individual, vista a partir de uma ironia
construtiva. Como quem diz: “vejam que parvoíce que foi tudo aquilo...”
Este
prolegómeno serve sobretudo para contextualizar o aparecimento de Everybody
in Our Family, segunda longa-metragem de outro talento desta geração
romena, Radu Jude, na competição internacional do IndieLisboa. O filme estreado
na Berlinale este ano, prolonga uma relação entre o festival e o autor que
remonta já às suas curtas-metragens The Tube with a Hat (2006) e Alexandra
(2007) e à sua estreia no formato longo com The Happiest Girl in the World
(2008).
Everybody
in Our Family continua o tema privilegiado desta competição internacional,
a família, tema iniciático, ou não fosse a secção destinada exclusivamente a
primeiras ou segundas obras. Esta família, que a produtora do filme advertiu na
abertura da sessão ter pontos de contacto com a situação familiar do próprio Radu
Jude, parece resistir apenas na sua formalidade. Marius, um homem um pouco
alienado no mundo literário e na sua vaga depressão pela falta de trabalho,
reúne todas as suas energias positivas para o fim-de-semana com a sua filha
Sofia de 5 anos, um dos poucos momentos em que a lei ditou que possa estar
com ela em virtude do divórcio da sua mulher Otilia. O que parece ser um
momento idílico de repouso e comunhão parental transforma-se lentamente numa
espiral de claustrofobia e violência que revela a realidade dura e
implacável das relações familiares.
Mas
esclareça-se: esta escalada de tensão é um mecanismo útil e eficaz mas que
interessa sobretudo pensá-lo do seguinte ponto de vista: “para onde é que isto
nos leva?”. No filme de Radu Jude essa escalada não é para ser assunto de
auto-reflexão como em Funny Games de Haneke, por exemplo, nem sequer só
uma forma de montar um ataque à natureza do conflito familiar. Ela é, e nisso
reside o mais importante de Everybody in Our Family, um processo
constante de passagem do drama ao thriller e do thriller ao drama, criando uma
espécie de “thriller dramático” que espelha a complexidade que vai do sangue ao
amor. Nesse processo de transferências constantes e verdadeiramente infernais
não há forma de pensar a “direito”: é que a comunhão digna, da essência, cassavetiana, ao
passar pelo umbral de uma porta com uma câmara à mão pode transformar-se num monstro belo, num observar
emocionado e feliz do seu próprio enterro.
Além
disso, o despojamento formal de Jude, o estar sereno dentro de casa, a braços
com a luta dramática dos atores, permite investir nas nuances da realidade. É
daqui que se pode falar de um humanismo cinematográfico que o cinema romeno só
pôde fazer em contacto com uma liberdade recém adquirida e com um tédio
ocidental que ainda não os consumiu. É tão ou mais empático o perdedor Marius
que não consegue levar a filha de fim-de-semana como o é a ventoinha e o
aquário da sala da ex-mulher no qual se passa uma das sequências mais
relevantes do filme. É que o espaço confinado, a casa, da qual Radu Jude não
quer sair até esmiuçar os porquês de uma separação, é um espelho fortíssimo da
humildade, da falsa passagem da formalidade ao segundo plano que o cinema novo romeno parece veicular. Arriscamos que o
sucesso de público desta vaga de cinema romeno venha sobretudo daí: dessa
limpidez com que o um povo descreve a sua vida.
Ainda dessa passagem do drama ao horror faz também parte a dimensão sarcástica que só um
olhar adulto como o do cineasta romeno pode veicular, ao ajudar a relativizar as pequenas
grandes tragédias da vida. Nelas, eles como nós, o espectador, rimos com vontade de
chorar e choramos com vontade de rir. É também nessa inversão que se torna claro
que Everybody in Our Family é um dos mais fortes candidatos a vencer
este IndieLisboa ‘12.
Ainda
haverá mais uma oportunidade de ver este filme no dia 4 de Maio às 16:00 no S.
Jorge. Não percam.
terça-feira, 1 de maio de 2012
Dia 5 no Indie- O que é uma família funcional?
El Estudiante, primeira longa-metragem
de Santiago Mitre, chega-nos a Portugal provavelmente com o “empurrãozinho” de
Pablo Trapero, tendo sido seu co-argumentista nos seus dois últimos filmes: Leonera (2008) e Carancho
(2010), este último estreado entre nós. Além disso, Santiago
Mitre é mais um nome a figurar do clichet em que se tornou pertencer ao “novo
cinema argentino”. A sua estreia na realização acarinha um tema duro, a
política estudantil como gérmen da carreira política. O seu protagonista é,
claro está, um estudante, Roque, que vem da província para a grande cidade de
Buenos Aires e que progressivamente vai começando a tomar parte ativa nos lutas
pelo poder estudantil na capital argentina. Filmado em sete meses na Faculdade de
Ciências Sociais de Buenos Aires, com uma pequena equipa, El Estudiante parece querer introduzir-se documentalmente no espaço
que retrata, privilegiando a câmara à mão não muito irrequieta, os planos
apertados e sobretudo uma relação interessante com os elementos que compõem os
interiores, as bandeiras, os cartazes, etc. Parece que rodeamos a questão. Sim,
temos de o admitir. Indo fundo ao assunto diga-se que El Estudiante sonha com um ambiente
denso, politizado, como aquele que Michael Mann montou em The Insider (1999), por exemplo. Não estamos seguros sobre qual a
razão principal que o separe de tal objectivo, talvez sejam várias ao mesmo
tempo: primeiro, o dilema político vivido pelo seu protagonista permanece
sempre como ilustração; depois, está longe de estar “resolvida” a relação
emocional/sexual de Roque, isto na ligação com o resto que é El Estudiante; por fim, essa passagem
da pequena vila à cidade, nunca deixa de ser um tema em surdina que raramente emerge
na obra. O resultado disto tudo é um filme que, sendo profundamente construído do
ponto de vista da sua história (a voz off
ocasional mostra essa “obsessão” da escrita), é igualmente lasso na sua
capacidade de “agarrar” o espectador. Para quem vê de fora (leia-se, que não
seja argentino) mais do que o alastrar do vírus da política no seu
protagonista, fica-nos, de forma doce, algumas marcas históricas e
antropológicas de um povo e de uma cidade. Marcas que se ligam mais à forma de
olhar, de acabar uma frase ou uma conquista amorosa do que a uma ascensão ou
queda em busca de poder no vazio.
A
sessão de ontem da Sala 2 do Londres às 23:45 tinha gente a dormir. Faz sentido,
era tarde. Mas a maioria estaria provavelmente com aqueles sorrisos que
mantemos durante algum tempo quando alguém nos embaraça e não nos queremos
desmanchar. É que o filme a que se assistia ilustrava na perfeição aquilo que a
dada altura um polícia diz a outro quando, em noite cerrada, deixa seguir
caminho uma jovem que passeava num carrinho de bébé dois “reborns” (bonecos
hiper-realistas que parecem mesmo bébés), à berma da estrada: “Well, it is not
necessary to understand everything...”. É assim Totem da alemã Jessica Krummacher. O seu filme de fim-de-curso
(estudou na Munich Film School) é sobre a chegada de Fiona, uma empregada
doméstica, a casa dos Bauer, uma família burguesa alemã repleta de, hum...
idiossincracias. O marido que fica louco quando não encontra a sua t-shirt da
Ferrari, ou que prefere dar comida aos coelhos (ou salada de batata à empregada) a estar com a família. A esposa, na menopausa, frustrada sexualmente, busca
refúgio nos seus rituais no solário ou tratando do seu casal de reborns. Mas
ainda há mais: a “vizinha” que entra e sai dos planos como uma aparição
desnorteada, o cão de plástico, o cavalo partilhado da filha adolescente e por
aí fora. Esta verdadeira enxurrada de bizarrias, onde o filtro de sanidade
parece surgir pelos olhos de Fiona, não é, contudo, aleatório. Embora falte ainda
a Jessica controlar alguns ímpetos da sua linguagem cinematográfica, que já não
fazem parte da intenção inicial, percebemos essa desconstrução permanente da
ordem nórdica. A “normalidade da loucura”, o inverso do livro de Arno Gruen, que
a realizadora alemã quer trabalhar está sempre na linha entre a obscuridade
permanente que nos impulsiona para o filme, e a aleatoriedade que nos repele. Em
paragens próximas de Hundstage (2001)
de Ulrich Seidl ou Taxidermia (2006) de Gyorgy Pálfi, estamos curiosos para
perceber onde se vai instalar a intransigência desta germânica de inegável
talento para dirigir um discurso sobre a irracionalidade em potência na mais
profunda das ordens familiares.
É ao
terceiro filme que vemos da competição internacional de longas-metragens do
IndieLisboa que se afasta o espectro da frustração em virtude das obras até
aqui apresentadas. De Jueves a Domingo
da chilena Dominga Castillo é mais uma primeira obra mas desta
feita de surpreendente maturidade e subtileza. Uma última
viagem de uma família em desagregação investindo nos prazeres de um tempo
“analógico” em família (canções, jogos, conversas) tendo como subtil fantasma
esse gérmen da separação que passa ao lado do rapazinho mais novo e ao qual a
irmã está atenta. Este jogo de percepções dos mais jovens e das relações,
palavras e gestos encobertos dos mais velhos (o tesouro do argumento) só
funcionam porque Dominga Castillo sabe exatamente como colocar a câmara por
forma a captar aquilo que por comodidade chamaremos de “reserva da vida
privada”. Desde o plano inicial em que o pequeno é tirado da sua cama, ainda de
madrugada, para iniciar viagem, passando, por exemplo, pelo plano da relação da
esposa com um “amigo” que encontram, visto na penumbra, com a câmara na outra
tenda, a da família. Não raras vezes De
Jueves a Domingo é de uma justeza total no que filmar e sobretudo em como
filmar aquilo que é da qualidade própria do que pertence à intimidade. O plano
muito aberto no final é precisamente esse espaço dado àquelas pessoas, como uma
última oportunidade de viverem o que já não tem remédio. Claramente o melhor
filme em competição até este ponto.
Subscrever:
Mensagens (Atom)