sexta-feira, 3 de julho de 2020

Quo Vadis multidão?

Estamos em 1912 ou 1913. Enrico Guazzoni realiza "Quo Vadis?", a partir do romance de Henryk Sienkiewicz. Este plano, perto do final do filme, é o momento trágico no qual Petronio, sentenciado à morte por Nero, decide antes disso cortar os seus pulsos juntamente com a sua amada, a sua escrava Eunice. Este é o seu beijo derradeiro antes de serem amparados, já mortos, pelos convidados do banquete de despedida. Uma das marcas que sinalizou o início dos blockbusters - os filmes monumentais italianos mas também em Griffith ou DeMille por exemplo - era o talento dos seus realizadores para encenar multidões. Planos com imensa gente, uma gestão das diferentes linhas de movimento de pessoas, animais, lutas, acenares, correrias, que podíamos ter num plano, na maioria das vezes ainda estático do ponto de vista da câmara. Se pensarmos nos blockbusters dos últimos anos a marca deixou de ser a possibilidade de encenar a multidão (ela foi-se do cinema, era cara e há o CGI). Por exemplo, neste plano de "Star Wars: A Ascensão de Skywalker" temos uma multidão de naves. Em teoria as pessoas/seres que as manipulam estão no seu interior. São elididas ou pressupostas. Essa passagem do plano cheio de gente ao plano cheio de máquinas como condição do "filme monumental" é um reflexo sobre o qual valia a pena pensar mais e melhor.






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