Que bonito, e ao mesmo tempo triste, é o final de "It Must Be Heaven", de Elia Suleiman. Um realizador que parece não poder filmar, mas que vai convertendo o seu olhar numa espécie de câmara ambulante. E o que vê ele? Uma juventude dançando, em êxtase, mesmo que, saiba ele - foi o cartomante que lho disse - vai existir um Estado da Palestina, mas já não será durante o seu tempo de vida. Um filme, portanto, acerca da dessincronia de um desejo, de um direito, de um modo de olhar. É um filme que faz pensar também na infância, quando olhamos e o mundo parece desajustado, tantas coisas para fazer, mas ainda não são para nós. “Lá havemos de chegar”, dizem-nos. No inverso, o envelhecimento também produz o maravilhoso e produtivo choque da dessincronia. O mundo parece ir encolhendo, sendo cada vez menos à nossa medida. O olhar de Suleiman é o de Tati, por outros meios, por outros tempos. Um mundo degradado, ruidoso, desatento, cada vez menos sincronizado com uma forma de vida na qual Suleiman foi crescendo e lançando as raízes de um olhar e de uma postura, críticas e construtivas. Por isso, tão certeiro o momento em que Suleiman deverá falar para um grupo de jovem estudantes e progressivamente vamos vendo todos de fatos, mascarados, estranhos cartoons ambulantes de um presente ao qual já pouco pertence. Por isso, tantos os momentos em que Suleiman pensa, a medo, ser o alvo das pessoas e não o é, ou, inversamente, quando o deseja ser e nele não reparam. Um filme feito por uma sombra? Por um olhar encolhendo? Ainda uma desincronia entre o silêncio e a palavra, magnificamente filmado nesse momento das palmas síncronas para não perder tempo para as palestras. Um mundo onde o ruído, o apoio sonoro à causa, ameaça a expressão da própria causa. Talvez que para Suleiman lançar "It Must Be Heaven" na estranheza deste mundo tenha como "missão" acarinhar o espaço da dessincronia naquilo que tem de produtivo, uma distância para sentir, para julgar o que vamos vivendo.
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