"O que Lotte Eisner significa para nós hoje
não se poderia prever no início da sua vida. Ainda hoje ela está zangada com a
mãe por não ter nascido rapaz nem pele-vermelha. Aos cinco anos lia Karl-May e
queria ser um pele-vermelha. Com tapetes construía uma tenda e cortava o
escalpe às bonecas. Os mitos da antiguidade clássica atraíam-na, e isto numa
idade em que a maior parte as crianças ainda não sabe ler. Mais tarde, nos bancos
da escola, lia Dostoiévski. Tornou-se arqueóloga e historiadora de arte, e
hoje, por caminhos inesperados, é outra vez uma espécie de arqueóloga. Alguém
que faz descobertas e traz os seus achados à luz do dia. Uma amiga da escola falou-lhe
de um rapaz amável que queria ser escritor. Num caderno da escola tinha escrito
à mão uma peça de teatro, e ela deveria lê-lo, pois a amiga não percebia nada
de literatura mas dizia que, se valesse alguma coisa, queria namorar com ele. A
pela intitulava-se Baal. “Ouve”, disse Lotte Eisner depois de ter lido o texto
durante a noite, “este homem será o melhor escritor da Alemanha!” Nesse tempo o escritor ainda não se chamava Bertold, mas sim Eugen. Corria o ano de 1921.”
Werner Herzog in "Caminhar na Gelo"
Sem comentários:
Enviar um comentário