As desconfianças simulacrais de Platão, a cinematização do quotidiano, a falência do referente no digital, o espaço confortável da indistinção entre ficção e documentário, tudo a caminho da fashionable noção de pós-verdade. A verdade, nem vendida (quanto mais dada) no infotainment, segue como parente pobre da verosimilhança, mas sobretudo agora esfrangalhada em virtude da aparência do genuíno. O genuíno não é o verdadeiro, ele é a ilusão do fora, da salvação que vem de longe. A invasão do "sistema" pelos valores do genuíno que este promete desmontar, não comunga necessariamente com a verdade. Por isso a salvação e o apocalipse confundem-se. Será uma grande utopia imaginar-nos numa realidade que não sabemos real? Ou num mundo em que todo o referente em relação ao qual se avaliavam factos, números, verdades, desapareceu? Eu crio os meus factos, as minhas notícias, as minhas ideias e assim sendo, a verdade é matéria unipessoal, sem valor de troca, ou atracção. A era de informação parece inaugurar assim a era da ficção total, aquela em que já se vai perdendo qualquer noção da própria diferença entre a retórica e a verdade. Isso implica apenas e tão só que o herói salvador já não tenha de parecer herói, basta parecer-se a si próprio. Genuinamente apocalíptico, por exemplo. É isso que um líder photoshop como Trump parece prometer ser. E o fim dos tempos soa hoje bem mais entertaining do que qualquer outra coisa.
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