quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Little Men (2016) de Ira Sachs


O penúltimo filme de Ira Sachs, Love is Strange (O Amor é uma Coisa Estranha, 2014) estreado em Portugal este ano (dois anos depois, portanto), acompanhava a história de dois homossexuais (Alfred Molina e John Lithgow) que, após quarenta anos de vida em comum decidiam oficializar o seu casamento. Contudo, o despedimento de um implicava que tivessem de abandonar a morada de família, até poderem pagar novamente uma casa para ambos. Ora, Little Men, que inverte o título do romance de Louisa May Alcott (Little Women), parece querer continuar o universo do filme anterior. Neste, Lithgow ia para casa do sobrinho, separando-se do seu amor, e acabava como “avô” de serviço, a pintar para passar o tempo e a perturbar as rotinas familiares do seu novo lar. Estabelecia uma relação entre a figura sábio e o empecilho com o filho do seu sobrinho e um amigo, personagens que entretanto se tornaram os protagonistas deste “Homenzinhos”.
E o tema mantém-se: em Love is Strange a crise económica afectava o amor; em Little Men a amizade é também perturbada pelas questões imobiliárias e do dinheiro. Jake morre-lhe o avô (não custa imaginar este início em raccord com o fim do filme anterior) e muda-se para uma casa deixada por este. Junto à casa trabalha, numa loja que era também pertença do falecido avô, uma senhora latina e o seu filho, Tony. Os dois rapazes vão tornar-se melhores amigos, os pais vão desentender-se. O mais incrível deste comovente filme é a maneira como a forma espelha o seu conteúdo. A amizade dos dois é livre, são os travellings contínuos em que andam de skate pelas ruas, em que vão para a escola. O travão dessa amizade são as casas, espaços de imobilidade, mas também de uma transformação social. As casas mudam o preço, mudam os inquilinos e ameaçam terminar o movimento que se faz lá fora, além paredes, entre desiguais. Entre o que prende e o que liberta está o espaço intermédio do crescimento, parece dizer-nos Ira Sachs. Mas o espectador, esse, liberta-se, emociona-se, desde os primeiros momentos.

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