Nocturama (2016) de Bertrand Bonello
Um ano após os atentados terroristas no Bataclan e em outros locais em Paris, o filme de Bertand Bonello tem um cheirinho a redenção e sobretudo um consciente lado de comentário político. A tese é simples e vincada: e se atentados terroristas fossem praticados por jovens franceses com uma taxa de ennui muito elevada e um enorme grau de frustração motivado pelas facilidades e desigualdades do sistema capitalista? Se este “e se” é bastante aprisionante para o espectador, o mesmo se passa com as decisões formais de Bonello. A primeira metade do filme é um percurso labirintico por escadas de metro, corredores, portas de edifícios, um plano coreografado, revestido de heist movie ao qual nem falta a mostragem no ecrã das horas que vão passando a conta gotas. Já o pós-golpe, na segunda metade do filme, é um huis-clos dos jovens fechados numa loja de múltiplos andares, a esperar pela manhã (pela morte?) e por uma hipótese de fuga.
Aqui Bonello é tão claro como fora atrás: como se as personagens de El Ángel Exterminador (O Anjo Exterminador, 1962) de Buñuel não saíssem do seu “abrigo” entretidas a brincar com aquilo contra o qual querem agir. Armas, cognac, vestidos de noiva, carrinhos, playstations, telemóveis, manequins, sistemas de som, tudo serve a brincadeira aborrecida e indigente, tal como o filme é ele próprio um brinquedo para explicar as contradições dos discursos terroristas e a arbitrariedade da separação entre terroristas e os “inimigos do estado” (como são tratados estas “crianças revolucionárias” pelas autoridades). Splits screens, câmaras deambuladoras, sms, Godard revolucionário, estátuas a arder, ecrãs de computador, videoclipes integrais em playback, são algumas das brincadeiras ao dispor de uma realização, como no mundo dos seus personagens, em modo de dispendio de energia. E no final uma montra é uma jaula. Ou será o contrário? Não interessa. Pede-se ajuda. Quem a dá?
Carlos Natálio
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