terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Uma nota sobre higiene dirigida aos fascistazinhos do presente

No mundo do oito e do oitenta em que se vive o eugenismo virou de direcção. Não se trata mais (ou apenas) de Madalenas louras e Salvadores altos e empreendedores. Agora chegou a vez de evicção do direito à escolha de terminar a vida, de fumar até que nos espirre sangue dos pulmões ou de apagar cirurgicamente as referências aos negros e aos escravos em algumas pinturas célebres para aliviar "desconfortos" daqueles que só sabem viver no presente, e sem sentido de passado. Trata-se de uma revisão retrospectiva da história, adaptado aos tempos actuais do feeling good, de quem fez merda no passado e tem agora de carregar com a cruz da discriminação positiva.

Risível, sim. Como a ida ao ginásio e a lógica do self made man de barba aparada e dentes brancos a foder o próximo para se pôr em bicos dos pés em nome das suas convicções. E chego a uma palavra decisiva: convicção. Os erros ou factos da história não são matéria de convicção. Nem para um lado, nem para o outro. Por isso é tão risível e perigoso o branqueamento da história como é o seu ataque com base numa crítica à ideia de tolerância. A tolerância actual não é um erro. Não é falta de tomates, como se aproveitam descaradamente os novos fascismos para atacar essa higienização. A tolerância é uma virtude, de colocação do eu no lugar do outro. Quem vê esta força como fraqueza não está em condições de pedir à tolerância que deixe de ser (como parece cada vez mais acontecer hoje) um valor que tudo devora e a todos se impõe. Porque essas pessoas, esses fascistazinhos do presente e do punho, só querem substituir uma higiene por outra, uma tirania do tolerante pela tirania do convicto. 

2 comentários:

  1. o teu texto lembrou-me este: http://dererummundi.blogspot.pt/2016/02/nao-ha-texto-literario-que-se-salve.html

    cada vez me convenço mais, somos um animal ridículo.

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  2. Pois é mesmo... Este puritanismo higiénico é obsceno. Viver mata... :)

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