The Pleasure Garden- Alfred Hitchcock |
25 anos. A primeira longa-metragem que temos de Hitchcock, The Pleasure Garden, foi feita com a mesma idade que Welles tinha quando realizou Citizen Kane.
Certamente aquele não tem o mesmo fôlego dramático (muito menos
técnico) mas tem a mesma vivacidade e capacidade de mostrar ao que vem.
Que impressionante catálogo de obsessões materiais num filme que quer
"ensinar" a forma como as aparências iludem (aos humanos entenda-se, não
os cães). A primeira sequência é sobejamente conhecida, com as primeiras
escadas de Hitchcock (preparadas para tantas subidas, descidas, quedas,
mas também o movimento espiralado das suas histórias), as primeiras
pernas, a primeira loura que afinal é morena, os primeiros binóculos, o
primeiro charuto-falo num jardim dos prazeres onde não se fuma (diz o
sinal) mas fuma-se. Depois temos ainda o roubo (com Hitch a mostrar-nos a
mente e a estratégia dos assaltantes) da carteira de Jill. O primeiro
assassinato, da nativa no mar, às mãos de Levet que se irá
desmaterializar numa assombração pré-Rebecca. A traição, num
movimento em que Jill quer a fama (o príncipe Ivan, no lugar mais alto
do teatro quando a vê pela primeira vez) e não a felicidade (Hugh é o
lugar do baixo, agachado a fazer festas ao cão de Patsy). Mas é
inesgotável este primeiro filme porque ainda há a rosa dada pela esposa
que Levet deita ao mar na lua de mel e o seu bocejo, quando ela
lhe diz que rezou por eles para serem felizes juntos. O raccord da mão
que diz adeus (de Patsy) e da mão que diz olá (da nativa) no vai vem das
mulheres e das geografias de Levet. Os olhares para o lado de Jill
(literalmente) a prefigurar que esta se irá dar aos homens, não como
Patsy que dá parte dos seus adereços (as suas madeixas falsas) e nada
mais. E, no final, uma cerejinha do presciente Cuddles que ladra a quem
não presta e faz festas a quem é bom. No último plano de The Pleasure
Garden, Hitchcock filma o cão de Patsy a roer os fios da rádio, cortando
o som impossível num filme mudo. O espaço da casa é de agora em diante
um espaço silencioso de felicidade, o verdadeiro jardim dos prazeres longe da
música e da dança dos cabarets e do rebuliço das gentes da distante e
exótica África. Home is where the heart is.
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