quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Pedaços

Arrancado a mim próprio
Vejo-me à distância,
Prostrado no lugar em que nasci, ou em que fui lançado.
Vi-me assim, aos pares, de olhos, de caminhos alcançados,
de amores pantanosos.

Por cima de uma almofada, aqui, dobrada, a tristeza pesa-me. Faz-me mal ao ponto de nem saber. E as mãos já não encontram o caminho sozinhas, estão cegas, tacteiam, doidas. E nem sei que mais faz parte de mim e o que não faz, O que de mim é por favor, o que sempre me vai adiar. O meu corpo já nem parece um conjunto. São pedaços de pensamento a que por cortesia estão colados carne e lágrimas.
O nariz quer entrar pelo passado adentro, de rompante, a buscar certezas.
Na cheiro, a certeza. No cheiro, o impulso derradeiro.
A língua presa de venenos interditos e a face arrebentada contra uma repetição.
Tudo jaz nestes milagres de impossibilidade.

Malditas poças de sentimento que inundam tudo o que é belo. Ou o que é certo, amarfanhado. Ou o que é atroz, desmitisficado.

Uma máquina de secreções a sentir num dia com tempo absurdo. Só isto.
Um cigarro que me destrói o pensamento. Um cigarro que me sabem a mil cigarros e me dão um pouco de ar.

E nem as palavras, essas que são tão soberbas, me ajudam. Nem elas me dizem o que devo dizer. Nem elas sonham o que não posso sonhar.

Recuo à adolescência sem certezas do meu sentir. Recuo, recuo, até não ter mais por onde recuar. Até não ter mais mãos por onde escrever. Até chorar só porque me batem. Sem compreender que o mundo é uma bola onde é possível ver um barco majestoso e ser-se o mar nele.

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