quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O elogio do zero, ou mesmo, quem sabe, a higiene do conhecimento

Em book antiqua era tudo mais simples.

Tiro na rótula de um mestre. Os mestres que nunca desgasto sem prazer são as pontas dos meus dedos. Essas putas que me vão alentando a rebentar pelas texturas. Deixa-me ó suave hipotenusa do caralho. Pensas que basta ires ao Colombo para tremer as solas dos sapatos? Tiro na rótula de um velho. Adoece, apodrece e cai. Olhar retinto, em que gastas toda uma vida. Fim-de-semana no estrangeiro, olhar as margens dos rios cheios de água. Subir nos elevadores da mentalidade. Os animais querem sangue e nós damos-lhes a nossa carne. Bom negócio. Tira na rótula de uma mercearia.
Limpa vidros Ajax para limpar a Antiguidade. Limpeza a seco, a quente. Raspar o cotão, os pêlos. Ficar só com o redondo, com o contorno. Asseio e a complicação da Piedade. Tiro na rótula do zero. Eu sou um zero porque sou redondo, porque não cabe em mim mais nada, porque não faço assumpções metafóricas. Assinei mais um papel timbrado e mais um rebanho de zeros que partiu para as coisas. Para o chalé, para a lareira do amor, para a tentação do Senhor. Tiro na rótula do Senhor. Vivo na minha cabeça. Insuflo o corpo com óleos e outros degradantes. O meu corpo podia ser um zero pedestal onde assentasse o cérebro. Que bola maldita! Tiro no rótula da bola sebosa. Está feita a matemática do ser humano. A zero se escreve a humanidade e a Santa Casa agradece. Mais uma vez esta semana o euromilhões não teve totalistas. Semana de merda, dizem eles. Os ateus agradecem. Os agnósticos desconfiam.

Fev /2008

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