sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Meditações de natureza imbecil sobre o tempo

Ora bem. Começou um novo ano. Já lá vão quase quinze dias e marcamos o fim de qualquer coisa e o início de qualquer outra coisa. Ambas têm em comum, parece, porem em andamento um "qualquer". A invariância é o tempo, esse decadente escultor que coloca as coisas nos sítios onde ainda não estiveram. Não era assim o poema? Entretanto começa o ano e morre David Bowie. 69 anos, cancro e o mundo chora — conjuntamente, como numa louca festa fúnebre — a sua morte. Dias depois, ontem, morreu Alan Rickman, o Hans Grueber do Die Hard que toda a gente vai associando aos Harry Potter's ao ponto da minha neurastenia. Morre aos 69 também, causa de morte, cancro. Não há coincidências, Margarida. Somos esse cadáver adiado, sem originalidade na morte, Fernando.



O tempo passa mas como sempre passou, com rimas. E nós insistimos em pensar a nossa alma como um verso livre, algo contemporâneo e original nessa merda toda.

Segundo apontamento imbecil sobre o tempo. Ao contrário dos anos transactos, dei conta ontem que vi quase todos os candidatos a melhor filme desta edição dos óscares. A crítica mais honesta que posso fazer sobre todos eles, largo senso, é que são uma perda de tempo. Resta-nos, insistentes nessa perda em comum, armarmo-nos em caçadores recolectores de cenas, de gestos, de cores, de intensidades. O visco das cenas de batalha do Inarritu, o olhar do violador no filme do quarto, a música do Mad Max, essas coisas que ficam tão bem em fundo verde, ou branco, ou vermelho.

Terceiro e derradeiro apontamento imbecil sobre o tempo. Esqueçam os problemas do chronos e do kairos, do Heidegger e do Santo Agostinho porque o que eu queria mesmo dizer é que o Richard Gere tem um talento fabuloso para entrar em filme irrelevantes. Talvez apenas concorra com Kevin Costner, neste campeonato muito particular. Em 40 anos de carreira e quase 60 filmes depois aproveita-se o quê? Dois, três filmes, se tanto? O Cotton Club, o Breathless do Jim McBride e o American Gigolo do Schrader? Há mais, sem ir ao refugo? O último, por exemplo, é uma coisa chamada The Benefactor e Richard Gere faz de filantropo. Nem vale a pena continuar. Olha, Richard, soube há pouco tempo que bastam ao cérebro humano 3/4 minutos sem oxigenação para sofrer lesões irreversíveis. Isto é, bastam menos de cinco minutos para começarmos a apodrecer ao nível do cérebro. E tu, rapara, andas nisto há anos. A mesma coisa para si, sr. Oscar.

Mas bem vistas as coisas talvez esteja a ser duro demais, um nazizinho do tempo. De que nos serve afinal o tempo se não for para o perder? Ninguém ganha ao tempo. Até já Bowie. Até já Rickman. Até já Richard.

4 comentários:

  1. (até parece mal dizer isto, mas fiquei com o Alan Rickman na cabeça, desde aquele videoclipe dos Texas. eu sei, é um comentário banal, mas o homem era tão charmoso)

    ResponderEliminar
  2. «Em 40 anos de carreira e quase 60 filmes depois aproveita-se o quê?»

    http://www.dailymail.co.uk/tvshowbiz/article-3135853/Richard-Gere-s-new-squeeze-Alejandra-Silva-32-displays-body-tiny-purple-bikini-cosying-65-year-old-actor-yacht-Italy.html

    ResponderEliminar
  3. O Rickman era muito sexy também a cair de arranha céus. Não era só a voz ;) Oh, Pedro, mesmo assim... mesmo assim...

    ResponderEliminar
  4. Ó ilustre Carlos, ficas tu com a alta cultura e eu fico com os milhões, com o iate e com a colombiana ;)

    Os filmes são todos irrelevantes. Quer dizer, no caso português temos a excepção à regra, o Taveira. É o único que entrou na gíria e no imaginário popular.

    ResponderEliminar