Ora bem. Começou um novo ano. Já lá vão quase quinze dias e marcamos o
fim de qualquer coisa e o início de qualquer outra coisa. Ambas têm
em comum, parece, porem em andamento um "qualquer". A invariância é o tempo,
esse decadente escultor que coloca as coisas nos sítios onde ainda não
estiveram. Não era assim o poema? Entretanto começa o ano e morre David
Bowie. 69 anos, cancro e o mundo chora — conjuntamente, como numa louca
festa fúnebre — a sua morte. Dias depois, ontem, morreu Alan Rickman, o Hans
Grueber do Die Hard que toda a gente vai associando aos Harry Potter's
ao ponto da minha neurastenia. Morre aos 69 também, causa de morte,
cancro. Não há coincidências, Margarida. Somos esse cadáver adiado, sem
originalidade na morte, Fernando.
O tempo passa mas como
sempre passou, com rimas. E nós insistimos em pensar a nossa alma como
um verso livre, algo contemporâneo e original nessa merda toda.
Segundo apontamento imbecil sobre o tempo. Ao
contrário dos anos transactos, dei conta ontem que vi quase todos os
candidatos a melhor filme desta edição dos óscares. A crítica mais
honesta que posso fazer sobre todos eles, largo senso, é que são uma
perda de tempo. Resta-nos, insistentes nessa perda em comum,
armarmo-nos em caçadores recolectores de cenas, de gestos, de cores, de
intensidades. O visco das cenas de batalha do Inarritu, o olhar do violador no filme do quarto, a música do Mad Max, essas coisas que ficam tão bem em fundo
verde, ou branco, ou vermelho.
Terceiro e derradeiro apontamento imbecil sobre o tempo. Esqueçam
os problemas do chronos e do kairos, do Heidegger e do Santo Agostinho
porque o que eu queria mesmo dizer é que o Richard Gere tem um talento
fabuloso para entrar em filme irrelevantes. Talvez apenas concorra com
Kevin Costner, neste campeonato muito particular. Em 40 anos de carreira
e quase 60 filmes depois aproveita-se o quê? Dois, três filmes, se
tanto? O Cotton Club, o Breathless do Jim McBride e o American Gigolo do Schrader? Há mais, sem ir ao refugo? O último, por exemplo, é uma coisa chamada The Benefactor e Richard
Gere faz de filantropo. Nem vale a pena continuar. Olha, Richard, soube
há pouco tempo que bastam ao cérebro humano 3/4 minutos sem oxigenação
para sofrer lesões irreversíveis. Isto é, bastam menos de cinco
minutos para começarmos a apodrecer ao nível do cérebro. E tu, rapara,
andas nisto há anos. A mesma coisa para si, sr. Oscar.
Mas bem vistas as
coisas talvez esteja a ser duro demais, um nazizinho do tempo. De que nos serve afinal o tempo se não
for para o perder? Ninguém ganha ao tempo. Até já Bowie. Até já Rickman. Até
já Richard.
(até parece mal dizer isto, mas fiquei com o Alan Rickman na cabeça, desde aquele videoclipe dos Texas. eu sei, é um comentário banal, mas o homem era tão charmoso)
ResponderEliminar«Em 40 anos de carreira e quase 60 filmes depois aproveita-se o quê?»
ResponderEliminarhttp://www.dailymail.co.uk/tvshowbiz/article-3135853/Richard-Gere-s-new-squeeze-Alejandra-Silva-32-displays-body-tiny-purple-bikini-cosying-65-year-old-actor-yacht-Italy.html
O Rickman era muito sexy também a cair de arranha céus. Não era só a voz ;) Oh, Pedro, mesmo assim... mesmo assim...
ResponderEliminarÓ ilustre Carlos, ficas tu com a alta cultura e eu fico com os milhões, com o iate e com a colombiana ;)
ResponderEliminarOs filmes são todos irrelevantes. Quer dizer, no caso português temos a excepção à regra, o Taveira. É o único que entrou na gíria e no imaginário popular.