Ao ler o novo livro de Nicholas Carr, The Glass Cage,
sobre os problemas da automação naquilo que de pior têm- expropriar-nos
do trabalho e da decisão como rugas problemáticas e condição essencial ao nosso
desenvolvimento - não pude deixar de pensar numa imagem-sonho que tenho
para mim como expoente de um cenário pós-apocalítico do
tecno-pessimismo. Não se trata da clássica inversão, o homem vai ser
controlado pelos robots e vamos ser aniquilados. Na verdade esse
controlo existe, ainda que numa dinâmica muito própria, desde a roda ou o
fogo. A imagem é a de um homem num cenário todo negro apenas com um comando na
mão e mais nada. Na minha mente isso representa o estado em que o mestre submeteu a
técnica como escrava eliminando tudo o que há para fazer. Quando tudo
tiver sido resolvido e estivermos condenados ao lazer total e eterno
vamos desejar que esse comando, símbolo da despreocupação e da libertação final das agruras da vida, se torne uma arma com o qual nos possamos suicidar.
Fiquei um pouco desiludido com o livro de Carr (sobretudo porque o anterior me tinha
aberto a pestana) e a incapacidade de evitar um acérrimo tecno-pessimo.
Só falta a Carr dizer que devemos destruir os computadores armados em
defensores do neoludismo
como única forma de salvar o futuro e a subjectividade. Embora eu
também seja mais pessimista do que optimista, ambas as posições face ao
destino do avanço tecnológico se infectam de uma certa arrogância. Os
optimistas acham que o novo é imparável e é sempre melhor porque crêem
numa ideia de progresso, achando que nunca vamos ser capazes de terminar
a nossa existência. Os pessimistas, contrariamente, querem de forma intensa e nostálgica voltar atrás com receio do fim da narrativa, do discurso. Em ambos impõe-se uma continuidade ou
uma finitude implacável ao agir tecnológico.
Ora,
se somos um grão de areia no universo, já devíamos saber que não
somos lá muito especialistas em determinar inícios e/ou fins. Por isso, o
media res é o que temos e é aquilo que nos deve guiar naquilo que também
apenas temos: um caminho finito que pode continuar ou acabar a qualquer momento.
A capa é magnífica.
ResponderEliminarDepois de ler o teu post, lembrei-me imediatamente do livro do Samuel Butler.
ResponderEliminarOlá, estive agora a ler um pouco sobre Samuel Butler e presumo que estejas a falar de "Erewhon"? Não conheço, mas fiquei curioso. Obrigado pelo comentário :)
ResponderEliminarErro meu, que me esqueci de mencionar o título. Sim, o Erewhon. Gostei muito (li em português).
Eliminarhttp://www.gutenberg.org/files/1906/1906-h/1906-h.htm
Desculpa, deixei-te sem resposta...obrigado pelo link, fiquei curioso, quando tiver tempo hei-de espreitar :)
ResponderEliminar