Ontem o Luís Mendonça dizia-me, e eu concordei, que o final de Viaggio in Italia caía-nos assim abrupta e inesperadamente. Como uma revelação, de facto. Essa queda do final, como os partisans a fazer ploch na água em Paisà (nunca ninguém esquece esse ploch) ou la chute de Edmund no desfecho de Germania, acentua-se pela movimento "religioso"
da grua (Rosselini era ateu). Hoje, ante a limpeza da cópia digital
restaurada que dentro em breve andará à solta por Lisboa, veio-me à
cabeça ontra grandeza daquele final. Rossellini continua a filmar a
procissão depois do I love you do George Sanders e a multidão de pessoas
continuar a passar. Além de um amor resolvido se "apequenar" ante a
grande máquina inexorável de pessoas que continua a girar e que constrói
a indiferente beleza da existência, aqueles os dois ficaram, Rossellini abandona-os, ali, como um casal cristalizado no seu amor (que
se presume para sempre) na lava de pessoas que os imobiliza-imortaliza.
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