quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Ana, mon amour


Talvez seja justo dizer, pelo menos baseando-nos neste Ana, mon amour (Ana, Meu Amor, 2017) e no anterior Pozitia copilului (Mãe e Filho, 2013 ), que o romeno Cãlin Peter Netzer, tal como uma das suas personagens, está fixado numa crónica das relações familiares obsessivas. Antes era a mãe em relação ao seu filho, agora um jovem face a uma neurótica e depressiva namorada.  A obsessão de Cãlin Peter Netzer é faca de dois gumes. O bom é que a sua escrita se ramifica, desenvolve, pormenoriza, cola-se como stalker ao detalhe no diálogo entre o obcecado e o objecto da sua obsessão, tudo se arrasta, interminavelmente, como numa minuciosa paranóia. O mau é que o universo do cineasta romeno é de tal forma trancado nessa relação familiar obsessiva que depois esquematiza em demasia as suas histórias, transforma os seus filmes em longas e dolorosas teses. Aqui, com este Ana, mon amour rapidamente percebemos a inversão que se vai operar ao nível das paranóias, e ainda mais cedo sabemos que o jovem universitário apaixonado (o excelente Mircea Postelnicu) vai cair e cair e cair. E isso é aborrecido, pois é traçar-nos um desenho nos primeiros minutos e depois vir o realizador com a câmara e desenhar os contornos grossos desse mesmo desenho. Entretanto tudo se vai modelando, mesmo o realismo do estilo, a esses contornos, a essa tese. A cena inicial onde Cãlin Peter Netzer opõe o gemido sexual à conversa filosófica sobre Nietzsche é disso um bom exemplo. Tudo se opõe ou inverte excessivamente como num gráfico, não tanto como no real.

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