- La mort de Louis XIV (A Morte de Luis XIV, 2016) de Albert Serra
- Ma Loute de Bruno Dumont
- A Fábrica de Nada (2017) de Pedro Pinho
- Little Men (Homenzinhos, 2016) de Ira Sachs
- Paterson de Jim Jarmush
- Verão Danado (2017) de Pedro Cabeleira
- Good Time de Benny Safdie e Josh Safdie
- Eldorado XXI (2016) de Salomé Lamas
- Lucky (2017) de John Carroll Lynch
- Lumière! L’aventure commence (Lumière!, 2016) de Thierry Frémaux
Terminei o balanço do ano passado pedindo que o ano de 2017 fosse pelo menos tão bom como o que então passava. E não é que o sacana me ouviu? Logo na primeira metade de Janeiro estrearam dois filmes que entraram no meu top e de lá não mais sairam. Falo do comovente Little Men de Ira Sachs, em que os meninos brincam lá fora e os adultos guerreiam pelos espaços interiores, as casas, e falo do filme do ano, La mort de Louis XIV. A entrada na maturidade de Serra, o fim de um ícone do cinema moderno, Leáud, o humor na pura obscuridade. Como é difícil esquecer este filme que ainda sussurra Rossellini mas já nos faz confundir o peso com a graça, a leveza com a cor, o fim com um início qualquer. Depois escolhi dois filmes que lutam contra uma ideia qualquer de materialismo como life coaching, obras que trabalham sobre a apologia da simplicidade como filosofia de vida, de quotidiano, de criação. É a poesia de Jarmush em Paterson e as palavras cruzadas, os cactos, os cágados, os sorrisos (para espectador ver) de Harry Dean Stanton em Lucky. Outro par de filmes que gostei muito são, por sua vez, construídos sobre a agitação, o excesso, o estar a caminho de algum sítio. É o falso desnorte da dança, do sexo, das festas ejaculatórias de uma juventude portuguesa entre a universidade e o incerto futuro profissional no Verão Danado do Pedro Cabeleira. E é, com esse irónico título, Good Time, o desesperado after hours dos irmãos Safdie, numa tocante e interminável noite em que irmão se sacrifica por irmão.
No topo da minha lista estão também duas implacáveis máquinas de experimentação e de excesso. A primeira pertence a Bruno Dumont, a segunda a Pedro Pinho. No filme francês, Dumont que sempre tentou caçar o milagre e o inatingível, chegou a esta conclusão deliciosa. A diversidade da vida, dos géneros (cinematográficos, físicos) deixam em aberto a conclusão, o acto narrativo, a afirmação da Verdade. Ma Loute é assim burilado com esse tecido de infinitas pequenas verdades, esse mistério permanente, cujas - gargalhadas, porcaria, lirismo, terror, canibalismo - transformam em surreal pedaço de subtiliza e composição. Por sua vez, A Fábrica de Nada levantou muita espuma cá no burgo: o prémio de Locarno merecia as alvíssaras?; e a direita não tinha direito (a discordar)?; mas onde estava o genialidade do "remendo mal-amanhado"? A obra de Pinho fica marcada no topo do cinema nacional de 2017 porque consegue, a meu ver, fazer duas coisas distintas: propor o cinema, a arte, como hipótese de trabalho depois deste agonizar; e porque vai afirmando que o fragmento não serve apenas para contrariar o ordenado, mas é um modo de vida a despontar. Num ano em que se ameaçou expandir a lógica do "cliente tem sempre razão" ao cinema português, e expô-lo à SECA, não havia como não deixar de destacar como brotam os "creatives juices" do nosso cinema, adicionando ainda ao meu top, o último documentário da Salomé Lamas. Eldorado XXI, feito nas minas da Rinconada no Perú. Ainda num ano em que se começou a confundir a vontade de mudança de atitudes erradas com uma caça às bruxas moralista e de varrimento e censura da arte do passado (que podia não ficar bem na lente do presente), resolvi escolher ainda o documentário de restauro de cento e tal curtas dos irmãos Lumière, Lumière! L’aventure commence. Em 1895 a aventura do cinema começou. Mas que dizer dela agora, cento e tal anos volvidos, com o peso de 1001 ideologias, publicidades e puritanismos às suas costas? O que as imagens dos Lumière nos dizem hoje, com toda a sua ingenuidade e ordinarice, é isto: o mundo ainda cá está, só é preciso sacudir o pó do olhar e manter as câmaras à altura do homem e da sua liberdade.
Termino listando apenas filmes que merecem ainda constar entre os melhores de 2017: Geu-hu (O Dia Seguinte, 2017) de Hong Sang-soo; O Futebol (2015) de Sérgio Oksman; Hymyilevä mies (O Dia mais Feliz na Vida de Olli Mäki, 2016) de Juho Kuosmanen; Toni Erdmann (2016) de Maren Ade; Jackie (2016) de Pablo Larraín; Rester Vertical (Na Vertical, 2016) de Alain Guiraudie; Detroit (2017) de Kathryn Bigelow; War for the Planet of the Apes (Planeta dos Macacos: A Guerra, 2017) de Matt Reeves; I Am Not Your Negro (Eu Não Sou o Teu Negro, 2016) de Raoul Peck; Logan (2017) de James Mangold; Coelho Mau (2017) de Carlos Conceição; Toivon tuolla puolen (O Outro Lado da Esperança, 2017) de Aki Kaurismäki.
E porque em 2017 também houve mágoa e ranho no nariz. Desilusõezinhas: Split (Fragmentado, 2016) de M. Night Shyamalan; The Lost City of Z (A Cidade Perdida de Z, 2016) ; Get Out (Foge, 2017) de Jordan Peele; Ah-ga-ssi (A Criada, 2016) de Park Chan-wook, Desilusõezonas: Aquarius (2016) de Kleber Mendonça Filho; Mother! (Mãe!, 2017) de Darren Aronofsky.
Não sei se concordo com algumas das suas desilusões mas gostos não se discutem ;).
ResponderEliminarFoi um bom ano, venha outro igual. (não quero pedir demais e ser apelidada de gananciosa).
Obrigado pelo comentário. Um bom ano de 2018!
ResponderEliminarObrigada. Bom Ano! E bons filmes (sigo as suas sugestões;).
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