quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Os melhores filmes de 2017


  1. La mort de Louis XIV (A Morte de Luis XIV, 2016) de Albert Serra
  2. Ma Loute de Bruno Dumont
  3. A Fábrica de Nada (2017) de Pedro Pinho
  4. Little Men (Homenzinhos, 2016) de Ira Sachs
  5. Paterson de Jim Jarmush
  6. Verão Danado (2017) de Pedro Cabeleira
  7. Good Time de Benny Safdie e Josh Safdie
  8. Eldorado XXI (2016) de Salomé Lamas
  9. Lucky (2017) de John Carroll Lynch
  10. Lumière! L’aventure commence (Lumière!, 2016) de Thierry Frémaux

Terminei o balanço do ano passado pedindo que o ano de 2017 fosse pelo menos tão bom como o que então passava. E não é que o sacana me ouviu? Logo na primeira metade de Janeiro estrearam dois filmes que entraram no meu top e de lá não mais sairam. Falo do comovente Little Men de Ira Sachs, em que os meninos brincam lá fora e os adultos guerreiam pelos espaços interiores, as casas, e falo do filme do ano, La mort de Louis XIV. A entrada na maturidade de Serra, o fim de um ícone do cinema moderno, Leáud, o humor na pura obscuridade. Como é difícil esquecer este filme que ainda sussurra Rossellini mas já nos faz confundir o peso com a graça, a leveza com a cor, o fim com um início qualquer. Depois escolhi dois filmes que lutam contra uma ideia qualquer de materialismo como life coaching, obras que trabalham sobre a apologia da simplicidade como filosofia de vida, de quotidiano, de criação. É a poesia de Jarmush em Paterson e as palavras cruzadas, os cactos, os cágados, os sorrisos (para espectador ver) de Harry Dean Stanton em Lucky. Outro par de filmes  que gostei muito são, por sua vez, construídos sobre a agitação, o excesso, o estar a caminho de algum sítio. É o falso desnorte da dança, do sexo, das festas ejaculatórias de uma juventude portuguesa entre a universidade e o incerto futuro profissional no Verão Danado do Pedro Cabeleira. E é, com esse irónico título, Good Time, o desesperado after hours dos irmãos Safdie, numa tocante e interminável noite em que irmão se sacrifica por irmão.

No topo da minha lista estão também duas implacáveis máquinas de experimentação e de excesso. A primeira pertence a Bruno Dumont, a segunda a Pedro Pinho. No filme francês, Dumont que sempre tentou caçar o milagre e o inatingível, chegou a esta conclusão deliciosa. A diversidade da vida, dos géneros (cinematográficos, físicos) deixam em aberto a conclusão, o acto narrativo, a afirmação da Verdade. Ma Loute é assim burilado com esse tecido de infinitas pequenas verdades, esse mistério permanente, cujas - gargalhadas, porcaria, lirismo, terror, canibalismo - transformam em surreal pedaço de subtiliza e composição. Por sua vez, A Fábrica de Nada levantou muita espuma cá no burgo: o prémio de Locarno merecia as alvíssaras?; e a direita não tinha direito (a discordar)?; mas onde estava o genialidade do "remendo mal-amanhado"? A obra de Pinho fica marcada no topo do cinema nacional de 2017 porque consegue, a meu ver, fazer duas coisas distintas: propor o cinema, a arte, como hipótese de trabalho depois deste agonizar; e porque vai afirmando que o fragmento não serve apenas para contrariar o ordenado, mas é um modo de vida a despontar. Num ano em que se ameaçou expandir a lógica do "cliente tem sempre razão" ao cinema português, e expô-lo à SECA, não havia como não deixar de destacar como brotam os "creatives juices" do nosso cinema, adicionando ainda ao meu top, o último documentário da Salomé Lamas. Eldorado XXI, feito nas minas da Rinconada no Perú. Ainda num ano em que se começou a confundir a vontade de mudança de atitudes erradas com uma caça às bruxas moralista e de varrimento e censura da arte do passado (que podia não ficar bem na lente do presente), resolvi escolher ainda o documentário de restauro de cento e tal curtas dos irmãos Lumière, Lumière! L’aventure commence. Em 1895 a aventura do cinema começou. Mas que dizer dela agora, cento e tal anos volvidos, com o peso de 1001 ideologias, publicidades e puritanismos às suas costas? O que as imagens dos Lumière nos dizem hoje, com toda a sua ingenuidade e ordinarice, é isto: o mundo ainda cá está, só é preciso sacudir o pó do olhar e manter as câmaras à altura do homem e da sua liberdade.

Termino listando apenas filmes que merecem ainda constar entre os melhores de 2017: Geu-hu (O Dia Seguinte, 2017) de Hong Sang-soo;  O Futebol (2015) de Sérgio Oksman; Hymyilevä mies (O Dia mais Feliz na Vida de Olli Mäki, 2016) de Juho Kuosmanen; Toni Erdmann (2016) de Maren Ade; Jackie (2016) de  Pablo Larraín; Rester Vertical (Na Vertical, 2016) de Alain Guiraudie; Detroit (2017) de Kathryn Bigelow; War for the Planet of the Apes (Planeta dos Macacos: A Guerra, 2017) de Matt Reeves; I Am Not Your Negro (Eu Não Sou o Teu Negro, 2016) de Raoul Peck; Logan (2017) de James Mangold; Coelho Mau (2017) de Carlos Conceição; Toivon tuolla puolen (O Outro Lado da Esperança, 2017) de Aki Kaurismäki.

E porque em 2017 também houve mágoa e ranho no nariz. Desilusõezinhas: Split (Fragmentado, 2016) de M. Night Shyamalan; The Lost City of Z (A Cidade Perdida de Z, 2016) ; Get Out (Foge, 2017) de Jordan Peele; Ah-ga-ssi (A Criada, 2016) de Park Chan-wook, Desilusõezonas: Aquarius (2016) de Kleber Mendonça Filho; Mother! (Mãe!, 2017) de Darren Aronofsky.

3 comentários:

  1. Não sei se concordo com algumas das suas desilusões mas gostos não se discutem ;).
    Foi um bom ano, venha outro igual. (não quero pedir demais e ser apelidada de gananciosa).

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  2. Obrigado pelo comentário. Um bom ano de 2018!

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  3. Obrigada. Bom Ano! E bons filmes (sigo as suas sugestões;).

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