"Normalmente, quando vamos de um lado para o outro, conhecemos o motivo. Mas - temos de reconhecê-lo - uma viagem assim é demasiado curta. A viagem que se faz explicando os motivos não é ainda a viagem. A verdadeira viagem é aquela em que a pergunta não se resolve, antes se amplia. As respostas provisórias ali já não interessam. Estamos. Viemos. Caminhamos. Somos. Não é o saber ou a utilidade que define a vida, mas o próprio ser na sua expressão misteriosa. Por exemplo: olhamos para um jardim, gostamos, não gostamos, intervimos, cortamos, cerceamos e, de repente, temos um jardim obcecado com figuras geométricas, recortado pela ânsia de alcançar formas reconhecíveis ou perfeitas.
Contudo, é bom saber que o nosso desejo de arrumação pode ser enganador, porque a vida é viva, e nada se sobrepõe a essa verdade. Creio, por isso, que na vida temos, sim, de desejar os nossos canteiros bem ordenados e floridos, e que neles mature aquilo que controlamos. Mas não podemos deixar de desejar, e de desejar ardentemente, que flores selvagens, flores cujo nome não conhecemos, venham também florir à nossa porta."
José Tolentino de Mendonça.
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