A doença é uma particular forma de dessinronia entre o movimento interno de um ser e o movimento daquilo que o acolhe. Uma rumba de peito numa desolada rua de valsas, um tango de perna bamba em dia de chuvada violina. Ela, a doença, contém em si o romantismo de uma muralha aberta, as pedras pelo chão, a aragem entrando pelas frestas. Talvez por isso seja possível ligar a saúde à disciplina do devir-muro, um hábil cerrar de fileiras, betume do quotidiano. Mesmo assim tudo não passa de um affair de vento: um truque de lobo mau que, ora sopra até derrubar a flor, ora possui a timidez de uma brisa cobarde. Ao contrário da saúde, coreografia das portas fechadas, a doença é dança das portas entreabertas. Doença-dança a chegar de mansinho, a pousar nas árvores e na testa, doença-dança que uns nomeiam de desilusão, outros apenas manhã.
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