domingo, 31 de dezembro de 2017


terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Dicas para acabar com isto

Para a Filipa

Uma senhora vestida de roxo e brincos pendentes começa a ventilar. Quer muito comprar. Era um livro e mais um candeeiro e uma posta de salmão. Tudo embrulhado com um lacinho na cabecinha do comprador que era ela. Quer muito comprar. Mas daqui até comprar há todo um número infinito de outros compradores que querem comprar. Meninos, velhos, gordos, o Samuel e a Salvadora. A Rita quer comprar, o menino nas palhas quer adquirir um burro-aquecedor para o Natal. A senhora de roxo ventila mais forte pois olha para o relógio e já espera há vinte minutos e aquele demorada compra está a impedir o natural rumo dos acontecimentos e de outras compras. Há que tomar uma decisão. Não vale a pena talvez esperar mais. Ainda falta adquirir, pelas suas contas, um pinhão em aço inoxidável, uma rua esconsa toda em barro e um frasquinho de absurda contemplação. Pousou os items e saiu da fila para pagar. A fila era já quase uma filha. Mas abandonou-a. Foi de imediato tentar arrombar outro estabelecimento atolado de pessoas. Meteu três cócós no carrinho e ala para pagar. Ela ainda queria muito comprar, as hormonas davam pulos, uma senhora da loja oferecia-lhe uma fatia de bolo rei enquanto esperava, mas a metadona não tinha o mesmo efeito. Começou a olhar para a zona de pagamento e viu dezenas de animais - focas, veados, elefantes, porcos e búfalas - tudo em fila indiana, tudo a ventilar. Nesse instante, a senhora de roxo pousou os cócós, tirou os brincos, chutou para longe as próprias botas que trazia calçadas, arrancou o soutien, e dos seus magros seios brotaram brancas e brilhantes penas. Olhou para o cimo da igreja colombiana e tentou subir. Com o esforço deu um peidinho. Finalmente, à segunda tentativa, partiu a cúpula envidraçada e voou.

Os mestres

Quando relembro os livros que li até hoje, as pessoas com quem falei, ou os abraços através dos quais conversei, não guardo já os traços dos rostos, as linhas das biografias, as estações que faziam. Aquilo que me fez pensar, sorrir ou chorar bem pôde ter a falta de gravidade de uma planta amarelecida que cai pelo Outono, a frescura de uma tempestade invernal, ou o ar abrasador que faz os bichos saírem das tocas no estio. Os meus mestres confundem-se como grãos de areia, ora alojados na ponta do dedo, ora na virilha. Todos me contam coisas, todos me levam pela mão, a passear pelo campo mais desterrado, a espetarem facas, a espetarem doces e maravilhas. Por vezes, nas intermináveis filas para pagar um Céline, ou um queque de laranja com a minha mãe, penso neste consumo interminável de traquitanas, de coisas, coisinhas. Penso no consumo dos mestres também. Mas quando faço esse esforço de pensar no que se pode chamar de biografia pessoal até acho que foram esses mestres que me consumiram, me beberam. Como um café, um shot de eternidade.

domingo, 24 de dezembro de 2017

O brilho que deixarás

"Faz o que possas e o que não possas, esforça-te até ao extremo, luta, batalha, conquista. Morde os dentes à realidade dura e não a largues até a domares. Faz isso tudo como se a  grande tarefa dependesse do teu ânimo e do investimento do teu suor. Não deixes, porém, de saber que nada te pertence. Tu não és o dono: és o pastor. Desconcerta-te com o esplendor inexplicável de cada amanhecer. Conserva-te sem palavras perante o mar, como aqueles que pela primeira vez o olharam; sente-te irresistivelmente atraído pela variação de cores, de volumes, e de odor da paisagem diurna e nocturna; estremece sempre ao primeiro contacto com a água; mantém intacta a capacidade de espanto perante o modo como o vento arrasta as nossas vozes felizes na distância; olha do mesmo modo desprevenido a chuva, os campos alagados em silêncio, as coisas mínimas e amplas, o tráfico das nuvens, a disseminação das papoilas que nos campos se parecem com palavras que sonham. Saboreia o embaraço por aquilo que permanece em aberto não por insuficiência, mas por excesso, e não te apresses a catalogar, a descrever ou a aprisionar.

Que a tua forma de compreensão seja um outro modo de ampliar o espanto. Seja esse o teu legado àqueles que amaste."

José Tolentino Mendonça

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Lançamento Livro "O Cinema Não Morreu"


Amanhã, dia 21 de Dezembro, às 18h30, há lançamento do livro O Cinema Não Morreu: Crítica e Cinefilia À pala de Walsh na Livraria Linha de Sombra, Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema. O livro será apresentado pelos editores, Carlos Natálio, Luís Mendonça e Ricardo Vieira Lisboa, e contará ainda com a participação de Maria João Madeira (programadora da Cinemateca que é autora do prefácio desta obra).

A Linha de Sombra edita este livro de antologia. São mais de 350 páginas, com cerca de 80 textos redigidos ao longo dos cinco anos de existência do site de cinema À pala de Walsh (estes textos serão um exclusivo do livro).
Estará representado nestas páginas um total de 22 walshianos, uma equipa de cinéfilos devotada à prática da escrita, pessoal e implicada, sobre o fenómeno do cinema.
Mais informações aqui.

Palatorium Dezembro






















Link para o artigo completo aqui.

Os melhores filmes de 2017


  1. La mort de Louis XIV (A Morte de Luis XIV, 2016) de Albert Serra
  2. Ma Loute de Bruno Dumont
  3. A Fábrica de Nada (2017) de Pedro Pinho
  4. Little Men (Homenzinhos, 2016) de Ira Sachs
  5. Paterson de Jim Jarmush
  6. Verão Danado (2017) de Pedro Cabeleira
  7. Good Time de Benny Safdie e Josh Safdie
  8. Eldorado XXI (2016) de Salomé Lamas
  9. Lucky (2017) de John Carroll Lynch
  10. Lumière! L’aventure commence (Lumière!, 2016) de Thierry Frémaux

Terminei o balanço do ano passado pedindo que o ano de 2017 fosse pelo menos tão bom como o que então passava. E não é que o sacana me ouviu? Logo na primeira metade de Janeiro estrearam dois filmes que entraram no meu top e de lá não mais sairam. Falo do comovente Little Men de Ira Sachs, em que os meninos brincam lá fora e os adultos guerreiam pelos espaços interiores, as casas, e falo do filme do ano, La mort de Louis XIV. A entrada na maturidade de Serra, o fim de um ícone do cinema moderno, Leáud, o humor na pura obscuridade. Como é difícil esquecer este filme que ainda sussurra Rossellini mas já nos faz confundir o peso com a graça, a leveza com a cor, o fim com um início qualquer. Depois escolhi dois filmes que lutam contra uma ideia qualquer de materialismo como life coaching, obras que trabalham sobre a apologia da simplicidade como filosofia de vida, de quotidiano, de criação. É a poesia de Jarmush em Paterson e as palavras cruzadas, os cactos, os cágados, os sorrisos (para espectador ver) de Harry Dean Stanton em Lucky. Outro par de filmes  que gostei muito são, por sua vez, construídos sobre a agitação, o excesso, o estar a caminho de algum sítio. É o falso desnorte da dança, do sexo, das festas ejaculatórias de uma juventude portuguesa entre a universidade e o incerto futuro profissional no Verão Danado do Pedro Cabeleira. E é, com esse irónico título, Good Time, o desesperado after hours dos irmãos Safdie, numa tocante e interminável noite em que irmão se sacrifica por irmão.

No topo da minha lista estão também duas implacáveis máquinas de experimentação e de excesso. A primeira pertence a Bruno Dumont, a segunda a Pedro Pinho. No filme francês, Dumont que sempre tentou caçar o milagre e o inatingível, chegou a esta conclusão deliciosa. A diversidade da vida, dos géneros (cinematográficos, físicos) deixam em aberto a conclusão, o acto narrativo, a afirmação da Verdade. Ma Loute é assim burilado com esse tecido de infinitas pequenas verdades, esse mistério permanente, cujas - gargalhadas, porcaria, lirismo, terror, canibalismo - transformam em surreal pedaço de subtiliza e composição. Por sua vez, A Fábrica de Nada levantou muita espuma cá no burgo: o prémio de Locarno merecia as alvíssaras?; e a direita não tinha direito (a discordar)?; mas onde estava o genialidade do "remendo mal-amanhado"? A obra de Pinho fica marcada no topo do cinema nacional de 2017 porque consegue, a meu ver, fazer duas coisas distintas: propor o cinema, a arte, como hipótese de trabalho depois deste agonizar; e porque vai afirmando que o fragmento não serve apenas para contrariar o ordenado, mas é um modo de vida a despontar. Num ano em que se ameaçou expandir a lógica do "cliente tem sempre razão" ao cinema português, e expô-lo à SECA, não havia como não deixar de destacar como brotam os "creatives juices" do nosso cinema, adicionando ainda ao meu top, o último documentário da Salomé Lamas. Eldorado XXI, feito nas minas da Rinconada no Perú. Ainda num ano em que se começou a confundir a vontade de mudança de atitudes erradas com uma caça às bruxas moralista e de varrimento e censura da arte do passado (que podia não ficar bem na lente do presente), resolvi escolher ainda o documentário de restauro de cento e tal curtas dos irmãos Lumière, Lumière! L’aventure commence. Em 1895 a aventura do cinema começou. Mas que dizer dela agora, cento e tal anos volvidos, com o peso de 1001 ideologias, publicidades e puritanismos às suas costas? O que as imagens dos Lumière nos dizem hoje, com toda a sua ingenuidade e ordinarice, é isto: o mundo ainda cá está, só é preciso sacudir o pó do olhar e manter as câmaras à altura do homem e da sua liberdade.

Termino listando apenas filmes que merecem ainda constar entre os melhores de 2017: Geu-hu (O Dia Seguinte, 2017) de Hong Sang-soo;  O Futebol (2015) de Sérgio Oksman; Hymyilevä mies (O Dia mais Feliz na Vida de Olli Mäki, 2016) de Juho Kuosmanen; Toni Erdmann (2016) de Maren Ade; Jackie (2016) de  Pablo Larraín; Rester Vertical (Na Vertical, 2016) de Alain Guiraudie; Detroit (2017) de Kathryn Bigelow; War for the Planet of the Apes (Planeta dos Macacos: A Guerra, 2017) de Matt Reeves; I Am Not Your Negro (Eu Não Sou o Teu Negro, 2016) de Raoul Peck; Logan (2017) de James Mangold; Coelho Mau (2017) de Carlos Conceição; Toivon tuolla puolen (O Outro Lado da Esperança, 2017) de Aki Kaurismäki.

E porque em 2017 também houve mágoa e ranho no nariz. Desilusõezinhas: Split (Fragmentado, 2016) de M. Night Shyamalan; The Lost City of Z (A Cidade Perdida de Z, 2016) ; Get Out (Foge, 2017) de Jordan Peele; Ah-ga-ssi (A Criada, 2016) de Park Chan-wook, Desilusõezonas: Aquarius (2016) de Kleber Mendonça Filho; Mother! (Mãe!, 2017) de Darren Aronofsky.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Flores Selvagens

"Normalmente, quando vamos de um lado para o outro, conhecemos o motivo. Mas - temos de reconhecê-lo - uma viagem assim é demasiado curta. A viagem que se faz explicando os motivos não é ainda a viagem. A verdadeira viagem é aquela em que a pergunta não se resolve, antes se amplia. As respostas provisórias ali já não interessam. Estamos. Viemos. Caminhamos. Somos. Não é o saber ou a utilidade que define a vida, mas o próprio ser na sua expressão misteriosa. Por exemplo: olhamos para um jardim, gostamos, não gostamos, intervimos, cortamos, cerceamos e, de repente, temos um jardim obcecado com figuras geométricas, recortado pela ânsia de alcançar formas reconhecíveis ou perfeitas.

Contudo, é bom saber que o nosso desejo de arrumação pode ser enganador, porque a vida é viva, e nada se sobrepõe a essa verdade. Creio, por isso, que na vida temos, sim, de desejar os nossos canteiros bem ordenados e floridos, e que neles mature aquilo que controlamos. Mas não podemos deixar de desejar, e de desejar ardentemente, que flores selvagens, flores cujo nome não conhecemos, venham também florir à nossa porta."

José Tolentino de Mendonça.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Sortudo


Creio que se aplicarmos o realismo, essa palavra cruzada de oito letras, a Lucky (2017), ele talvez não passe de um filme banal que elogia, ele próprio, uma certa banalidade. Escrito e realizado por actores sem experiência, tudo se organiza em torno de um diamante que resplandece uma última vez antes de ser levado pelo tempo. Esse diamante é Harry Dean Stanton, e, não há como negá-lo, um dos maiores actores da segunda metade de todo o cinema. O palco para essa última chama, daquele olhar que tudo penetrava, ora impiedoso, ora frágil e com medo, é o deserto, meia dúzia de cactos, umas botas, o mundo a céu aberto e o quotidiano num pequeno vilarejo.

John Carroll Lynch torna demasiado evidente essa moldura em torno dos últimos sorrisos, dos últimos caminhares, uma homenagem que o cinema procura, meio desnorteado, fazer ao próprio cinema. E se a encenação é clara através dos seus olhares para a câmara, das cantigas, dos momentos de recordação de um passado cheio, as cenas vão sucedendo-se como um quebra-cabeças de nível médio. A apologia da simplicidade, o minimalismo metafísico de uma bebida e um cigarro, a capacidade de olhar e aceitar a realidade tal como é. Mas... e aqui reside tudo, um grande filme não é (apenas) affair de cabeça. Como alguém respondia à pergunta "o que é um grande filme", no documentário sobre crítica de cinema realizado por Maria de Medeiros,  Je t'aime... moi non plus: Artistes et critiques (2004): "Isso é a mesma coisa que perguntar o que é o amor. Não sei defini-lo mas quando, de repente, aparece eu sei o que é, sinto-o".

A mesma coisa com Lucky, eu sei que esse amor que só se sente pelos grandes filmes lá está. Sinto-o.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017


sábado, 9 de dezembro de 2017

Mother!, ou a angústia da criação diante da metáfora.


Comecemos com uma fórmula matemática:

(Escritor=Deus) + (Mãe=Mãe Natureza) + (Casa=Terra) + (Intrusos=Humanidade pecadora) = Mother!

Parabéns ao matemático Aronofsky por tão eloquente exposição do seu teorema. Mas pergunto-me: depois disto, haverá mais qualquer coisa para o pobrezinho do espectador? Qualquer coisinha após este sudoku moralizador que trata os corações como diamantes partidos e renascidos? 

Após ver o último Aronofsky, cineasta que nem desgosto, não pude deixar de passar dois ou três desabafos a escrito. Ver Mother! é assistir à penosa via sacra do espectador a caminho da metáfora-calvário. Aguardar a meticulosa elaboração de uma surpresa. Tão meticulosa que, quando chega o momento do "ah!", já só ouvimos o timbre maquinal com que este é proferido, e já só vemos as cordas que seguram os maxilares do espanto do espectador-espantalho. É o problema do autor como grande Criador, mãe-pai de uma teoria que vai metendo a custo na camisa de forças de um filme, com personagens-marioneta, que só existem afinal para adorar o grande Deus, ou a "Inteligência" do Pai. Acreditar nisto, neste tipo de filmes taxidermistas, que faz de nós seres empalhados, é achar que o cinema é contentor de "Mensagem", achar que somos os grandes servos do grande "Conteúdo", achar à pressão um "Tudo" no qual acreditar que substitua o "Nada" que nos deixa incrédulos. Mas é sobretudo não acreditar numa palavra do que foi o cinema moderno, em todo o esplendor do seu falhanço e do ataque às superfícies brilhantes e sem rugas. Por vezes, até parece que entra uma aragem de um surrealismo leve, mas no final percebemos que já tudo estava previsto. Um surrealismo de ocasião, utilitarista, que quer parecer experimental, mas que tem sobretudo a imobilidade das grandes imagens idólatras. 

Em Mother!, como nos mais comuns actos da fé, ou se acredita ou não. Mas o que há para não acreditar quando tudo já foi recitado? Precisamente, tudo. Não se acredita em Mother! na medida em que o cinema (a arte) não deveria (creio!) servir a crença, nem a conversão. A arte serve para não ter casa própria, para não poder jogar com a ideia da ordem a ser conspurcada pelo visitante-espectador que vem abandalhar a grande criação.

Que outra coisa é a metáfora na arte senão a ideia da casa arrumada? Que outra coisa é a metáfora na arte senão a sensibilidade empalhada pela razão? 

Liberdade é aquilo que não existe em Mother! E o espectador, que é o grande sem abrigo do cinema, aquele que reclama para si a construção das metáforas mentais, o espaço da criação que quer partilhar (ao menos) com o grande "Criador", esbraceja procurando um espaço que seja seu. Mas em vão, pois já tudo foi pensado. E o inaudito acontece: o Apocalipse parece o início da criatividade. O espaço onde o espectador pode afinal respirar, depois do desatravancar das casas-metáforas opressivas, depois do cheiro a carne queimada da teoria a esfarelar-se. 

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Pardon my french, mas "La Gueule ouverte" do Pialat é uma obra prima porque não tem pudor em mostrar que a boca aberta de um morto é a mesma boca aberta de um vivo possuído pelas "pequenas mortes" dos corpos fornicadores. Os corpos fodem, os corpos são fodidos pelas doenças, a câmara manda foder a agitação do sentimentalista e permanece vigilante e quase extática. O marido é um porco, assedia e chora. O filho porco é, mas permanece e anda às voltas nessa dança, nesse ritual em que se espera o fim dos que amamos. Entretanto, fala-se de vinhos, de flores, de t-shirts amarelas coladas às maminhas e a morte encena-se junto de todos. Mise-en-scène de cadáver, num filme que não pára de fazer isso que a todos os cinéfilos excita: foder-lhes o juízo.

domingo, 3 de dezembro de 2017

A doença é uma particular forma de dessinronia entre o movimento interno de um ser e o movimento daquilo que o acolhe. Uma rumba de peito numa desolada rua de valsas, um tango de perna bamba em dia de chuvada violina. Ela, a doença, contém em si o romantismo de uma muralha aberta, as pedras pelo chão, a aragem entrando pelas frestas. Talvez por isso seja possível ligar a saúde à disciplina do devir-muro, um hábil cerrar de fileiras, betume do quotidiano. Mesmo assim tudo não passa de um affair de vento: um truque de lobo mau que, ora sopra até derrubar a flor, ora possui a timidez de uma brisa cobarde. Ao contrário da saúde, coreografia das portas fechadas, a doença é dança das portas entreabertas. Doença-dança a chegar de mansinho, a pousar nas árvores e na testa, doença-dança que uns nomeiam de desilusão, outros apenas manhã.