James Gray sempre foi um cineasta que buscou na densidade das tragédias familiares, sobretudo as herdadas do clássico americano (Ford, Ray, Hawks), a força motriz do seu cinema. Talvez que todos os seus filmes anteriores, com excepção já de «The Immigrant», mantivessem a rima com o passado numa camada mais interna e trabalhassem sobretudo essa capacidade do pequeno se fazer grande, do drama quotidiano tocar qualquer coisa de sagrado. Em «The Lost City of Z» é provavelmente o tema e seus detalhes - a subida do rio, a procura de um sítio mítico, o aventureiro louco e obstinado - que evocam no espectador, a todo o tempo, a "rememoração" de Huston e Bogart, de Herzog e Kinski, mas também de Cimino, de Coppola, Sheen e Brando. O que quero com isto dizer é que «The Lost City of Z» parece exteriorizar mais as suas rimas, mostrar mais sem pudores o espaço de onde vem.
Isto coloca, com alguma graça, a questão de sabermos se, perante um filme que levanta mais a guarda da sua parentalidade, estamos ou não mais autorizados a dizer sobre James Gray que é hoje um cineasta conservador e nostálgico. Conservador no sentido em que procura conservar, através dos seus filmes, uma lembrança do que o cinema em tempos foi e da grandeza que atingiu.
Ante tal cisma há que dizer que - e agora escrevo como cinéfilo e apreciador do cinema de Gray - só um ingénuo pensará que, quer espectadores, quer o próprio realizador, procuram manter um paradigma qualquer. Há, ao invés, no caos contemporâneo das influências, múltiplas maneiras de gerir a relação com o passado e a de Gray é apenas mais uma. E é uma que não procura necessariamente regressar atrás, ou manter. Nem sequer meramente louvar cineastas e formas de fazer. Procura, como todos, fabricar no presente uma visão contaminada necessariamente por aquilo que marcou o cineasta... no passado.
Dito isto, creio que «The Lost City of Z» - apesar de Khondji, apesar do seu plano final, apesar de algumas soluções engenhosas de montagem e enquadramento - é um glorioso falhanço. Mas não o é porque, argumento muito usado e pouco produtivo, não avança no cânone do cinema. Isso seria criticar o que está antes do filme, isto é, a impossibilidade do ponto de partida em que nunca seria possível fazer um bom filme (até um inovador filme) a partir do (e trabalhando com o) material de um passado. «The Lost City of Z» é, como escrevia, um glorioso falhanço porque nele se sente que Gray se preocupa em demasia com os blocos narrativos (primeira e segunda expedições, guerra e desaparecimento) e entre eles pouco ou nada existe. Isso tem como consequência que, ao contrário do que acontecia com o seu cinema até aqui, a empatia com o seu protagonista seja bastante menor e que seja possível ver como o filme "corre" para a situação cara ao cinema de Gray: um filho lado a lado com um pai em busca de Z.
A grande nuance, mas isto já seria Gray em auto-sabotagem, é que, passando o grande misticismo pseudo - espiritual de Z como um nirvana qualquer do herói, ficaríamos apenas com um obsessivo, um louco, capaz de tudo para chegar de facto a Z, inclusivé, sacrificar um membro da sua família.
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