Um bom double bill para «Manchester By the Sea», o filme que sem música erudita era um drama banal, é «The Invitation» de Karyn Kusama. Também aqui um homem que perdeu a prole agora a tentar recuperar e a refazer-se mentalmente. Mas enquanto Casey Affleck é chamado a Manchester-by-the-Sea, a sua casa de horrores, com o intuito de prosseguir numa tarefa de parentalidade interrompida (em relação ao seu sobrinho, devido à morte do irmão), já o barbudo Will (Logan Marshall-Green) é no interior do parque temático de obsessões e terapias que é Hollywood que terá de buscar reparação. Se o drama do primeiro filme filma um slice of life que lentamente produzirá um avanço, a suspeita do segundo - depois de anos de ausência, a ex-mulher de Will dá, com o seu novo companheiro, um jantar na sua casa para aquele e os amigos em comum - faz com que o terror se «entale» entre a loucura produzida pelo desgosto da perda de um filho e o terror das reparações espirituais automáticas veiculadas através de seitas religiosas.
O filme de Kusama, que por vezes trás à memória «The Rope», tem sobre a obra de Lonergan a vantagem de expor (e de se expor) sentimentos que podem estar errados, podem ser paranoicos e desajustados, mas precisam de sair. Já Lonergan parece usar a introversão de Affleck, que muito possivelmente lhe valerá um óscar, para mostrar o silêncio dos grandes pequenos e trágicos heróis como um antídoto ao frenesim da vida. O problema é que entretanto esse «silêncio» já há muito que foi convertido em viva voz autoral. Um tique audível, portanto.
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