sábado, 23 de julho de 2016

Monument Valley


Quem vê os filmes de John Ford, ou o ouve falar no seu estilo truculento logo percebe o lugar comum que circula entre a sua arte e a sua personalidade: the good bad man. Um lugar comum de alguém que trata o comum com a irreverência de uma rocha. Depois há que perceber que se "Stagecoach" é hoje o cúmulo do western e do fordianismo ele é-o porque encena essa carruagem como útero e como palco de uma resistência à violência da civilização. Ela avança apesar das dificuldades, contendo os bons, os maus, os futuros redimidos, mesmo os sem esperança. Esta carruagem é a corporização do acto de fronteira que é vital em John Ford: a fronteira do bom-mau-homem ou do homem que resiste duramente à vastidão do mundo, mantendo o seu núcleo interior imaculado e puro; a fronteira vital, ou o que faz a obra de arte perdurar: no fundo, a capacidade desse núcleo individual (e longe do lugar-comum) da obra se universalizar e se expandir, tornando-se comum ao sentir do humano; finalmente, o tema da família cujas forças agregadoras (diremos, forças gravitacionais) mantém unida apesar das alturas, vales, flechas ou balas. Por isso, Monument Valley é a casa do "good bad man": um local afastado da civilização onde a família se pode manter unida e traçar constantemente esse vai vem controlado entre o regaço da mãe ou o charuto de uma conversa e a majestosa solidão do penhasco e do voo circular do abutre. É o espaço do trabalho emocional e do trabalho de facto, diário. Que digo? Trabalho emocional. Ponto.

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