Leio esta passagem em "Se Isto é um Homem" de Primo Levi:
É Null Achtzehn. Não tem outro nome, Zero Dezoito, os últimos três algarismos do seu número de matrícula: como se cada um se tivesse apercebido de que só um homem é digno de ter um nome, e de que Null Achtzehn já não é um homem.
Talvez tenha sido o horror do Holocausto, que foi "ontem", a etapa intermédia da tão falada automatização integral da sociedade. A crise dos projectos do iluminismo, dos ideais do progresso e das ciências humanas, o avanço da técnica na disponibilização do homem, o triunfo da lógica e da matemática aplicado a todos os domínios da existência. Fala-se muito da condição animal a que os nazis degradaram os judeus mas talvez aquele matrícula no braço e seus números identificadores de um homem tornado "carrinho de mão com braços" fossem já um sinal de todo este processo.
Antes do devir-máquina, o devir número.
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