O tempo, como um supremo argumentador, tira-nos a razão a toda a hora. Quantas vezes as certezas da juventude são escovadas lentamente, removendo o sarro da assertividade cega?
Dito isto, pensava que ia acontecer essa mesma “ascese e depuração” quando revisse agora Starship Troopers. Mas não. Não gostei quando era miúdo (não me lembro das razões) e continua a achá-lo fraco agora.
Ou talvez ainda mais fraco agora, pois os termos de comparação aumentaram. E a metáfora do autoritarismo, da fascismo embrionário e latente naquela sociedade do futuro - umas das razões pelas quais o filme é hoje revisto com olhos de fada - apenas se ergue como uma metáfora-monolíto imobilizante, secando tudo o mais.
Não estamos, como se ouve muito, na pura auto-paródia. Além das mais evidentes sequências televisivas e, admito, algumas outras peripécias mais rocambolescas, há a necessidade de estruturar uma matemática narrativa (aos trios, onde se devem encontrar os pares) séria.
A higiene da cara laroca dos actores, a violência sem os problemas das pessoas por baixo (como em RoboCop, por exemplo), as cenas de sexo sem sexo, o excesso removido a pinças, fazem de Starship Troopers um bug no próprio cinema de Verhoeven.
Nunca nenhum filme dele foi tão senhorial, tão portador de uma bandeira e afinal de contas limpo, sem contradição.
Entrar no cérebro de Verhoeven, como entrar no cérebro do insecto pensante (para compreender a lógica de actuação de ambos) apenas produzirá medo no lobotomizado e falsos sentimentos de controlo no autor dessa invasão. Afinal de contas, numa guerra, o oprimido finge sempre ser uma coisa que não é. Mas isso já tínhamos nós percebido com Jennifer Jason Leigh em Flesh + Blood.
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