Não se pode dizer que seja propriamente um fã de WE ARE THE LAMBETH BOYS
de Karel Reisz. Mas admiro que tenha tido a vontade de filmar
livremente a liberdade, no seio do emparedado das esquinas proletárias, das
ruínas de uma “miséria” pouco à mostra. Admiro que mostre os sorrisos dos
rapazes e das raparigas mesmo que o clube juvenil seja visto pela primeira vez
num pátio de edifícios e rodeado por redes pouco free. As redes do jogo, bem
sei, que os rapazes jogam enquanto as meninas conversam no outro canto. Admiro
aquela sequência em que Reisz mostra as diferentes profissões dos jovens, um
carteiro, outra modista, outro talhante, ao som do hino com que
Brian e Johnny, os mais novos, começam o dia na escola. Naquela altura era fácil
arranjar trabalho, diz mais tarde o narrador. Mas é essa a dignidade do
trabalho mostrada assim. Plano de um dos rapazes, Woody, a cortar uma peça de
carne e revela o narrador: “With luck he
thinks he may be in the meat trade for life”.
Reisz não quer mostrar as vidas
pessoais, os paizinhos ou os conflitos de cada um, quer é mostrar o talhar dessa carne, da qual se forma essa juventude capaz de ser livre no mais aprisionante dos
ambientes. Onde vão buscar eles as opiniões para discutir no clube? A voz
professoral de John Rollason, que faz a narração, sublinha, desnecessariamente, o
óbvio: uma preocupação com o futuro da juventude. Mas quem não se preocupa,
ciclicamente, idosamente, com a juventude? O que vale é que o filme diz, mostra, deixa ver, a maior parte
das vezes o contrário dessas ânsias. Mostra como se talha
essa liberdade e como se formam as relações. Nas danças nervosas, nos olhares
furtivos, nos risinhos parvos, nas conversas acerca de roupa ou da pena de
morte. A melhor cena é o regresso de camioneta depois de um sábado repleto de
cricket e chazinho. Reisz filma subjectivamente as ruas, olhadas pelos jovens,
à medida que a camioneta vai passando. Piropos às miúdas, canções de ódio aos
revisores de autocarro, polícias aprumados, carrinhos de bébé, o Big Ben. “When
the boys past through the West End, the West End remembers for a while that
they have passed through.” Quem lhes pode dizer, no passarán? É essa passagem, barulhenta e irrepetível, que deixa
marcas em todos - trauseuntes e espectadores – aquilo de que me parece ser feita a
juventude.
A narração é, realmente, o pior do filme. Mas li algures que se trata de uma "imposição do patrocinador".
ResponderEliminarEntão como agora, sempre a imposição comercial...
Cumps cinéfilos.
Faz sentido, parece vir de outra lógica qualquer. Às vezes o que destoa mais é mesmo a entoação, nem sequer é aquilo que está a ser dito... A entoação soa-me muito mansa, pacífica, fere-me por isso. Abraço Samuel :)
ResponderEliminar