A ideia panteísta de comunhão com a natureza,
o espaço de inocência e completude na vida e no amor são traços da jouissance
renoiriana que em Partie de Campagne (1936)
se literalizam. Talvez por isso seja o filme que mostra de forma mais límpida a
complexidade, o célebre “chacun a sa raison” contido na vontade de viver da
melhor forma que cada um pode e sabe. O final entrecortado, alguns dirão abrupto, da obra,
já mostra outra coisa. É a rememoração de um espaço onde se foi feliz. Para
isso, o marido de Henriette surge grotesco, clownesco. Nele, como espelho,
podemos ver plenamente os anos de tristeza que a jovem esposa viveu quando se
casou. A dessintonia de destinos mal juntos como desfecho comum do naturalismo
do francês. É sobretudo a luz talvez que nos mostra isso na conclusão, na
“elipse” para a frente, no final de The Diary
of a Chambermaid (1946) na qual Céléstine cumpre o desígnio do final feliz
hollywoodiano, anti-Renoir, ao casar-se com o doente Georges. É essa luz
“bouleversante” que nos revela que o plano inicial da protagonista foi cumprido
(obter muito dinheiro e finalmente não querer saber do amor) e o “até que a
morte nos separe” ganha então tons de ironia suprema. Num caso, o terceiro como
espelho, como noutro, a luz reveladora, tratam-se de pistas, sintomas, de que a elipse em Renoir luta para vir a
campo. Sempre tendo como desígnio clarificar ao espectador o “inclarificável”.
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