segunda-feira, 13 de abril de 2020

Nyo Vweta Nafta (2017) de Ico Costa


Se penso numa casa como um espaço de abrigo, o mundo não deixa de ser um muito mais emocionante abrigo global, porque cheio de descobertas e incertezas. O nosso confinamento temporário tirou-nos essa possibilidade de ir por aí "ao deus-dará", rumar de forma incerta, descobrir criativamente o espaço. É o que faz de forma maravilhosa esta pequena ficção de Ico Costa, filmada em Inhambane. Uma das personagens procura uma mulher, Nafta. Essa busca é apenas a centelha ficcional de uma procura muito mais vibrante: a câmara não pára de trabalhar para insuflar-nos os sentidos de novas coisas. Cores fortes, o interior atravancado de autocarros (que não conhecem distanciamento social), a partilha de desejos e palitos (que não conhecem distanciamento social) ou o bulício de mercados e bailes (que juntam as pessoas, como uma banalidade que nos sabe hoje a miragem). Nyo Vweta Nafta mostra-nos pequenas encenações da vida na cidade moçambicana, mas sempre ancorada neste desejo documental de furar a higiene e o confinamento da construção artificiosa. Quem o viu não vai mais esquecer aquela descida progressiva  de uma esplendorosa baobá. Não  estamos apenas com os jovens que apanham frutos para vender, uns sonhando com café (o vício dos ricos; a "ritalina" da produção) outros com cerveja no tasco. Estamos com Ico Costa na descida, símbolo de um filmar e ouvir o verdadeiro, o que cresce das terras, cá em baixo: as gentes.

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