O que mais me impressiona na escrita de João Miguel Tavares não são naturalmente as suas opiniões, às quais tem todo o direito. É antes dar-me a sensação, enquanto leitor (concordante ou discordante), de que as suas crónicas, do seu título à ultima frase, parecem uma engenhosa e laboriosa obra de provocação. Esta ideia de escrever contra. Como se o conteúdo se secundarizasse a esta personagem que encarnou e que a tudo domina: a do grande provocador. Talvez por isso o resultado seja este, o discutir-se menos aquilo que pensa, e mais aquilo que deseja ser como interventor social. Menos o pensador e mais o protagonista. Claro que JMT não inventou o estilo provocador e nem isso é necessariamente desinteressante. Por exemplo, o César Monteiro. Também não creio que seja um problema de vazio de conteúdo. Muitos dos textos que li fazem sentido, apesar de não concordar com eles. Não posso naturalmente dizer que sejam vazios de ideias. O meu problema é que as ideias são sempre ofuscadas por esta espécie de sombra que paira sobre os seus textos, que é a necessidade de se auto-colocar sempre no centro de uma polémica, de um furacão. Mesmo que seja ele a criá-lo.
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