“E sendo os relógios meros marcadores repetitivos de coisas que mudam sobre outras que duram, podemos falar de um tempo de processos humanos que se acelerou por referência a um tempo objectivo, cosmológico, imune à acção humana. Fazemos mais coisas, ou mais exactamente, fazemos acontecer mais ciclos de coisas (…). Mas isto de fazer mais ciclos de coisas não significa que aconteça mais, ou sequer o mesmo, nesses ciclos. Significa apenas que medimos muito mais o que nos acontece, que tornámos tudo mais contável, mais objectivamente mensurável e, por isso, também mais comunicável, mais partilhável, mais facebookável. A aceleração do tempo social serve um propósito muito objectivo de industrialização do acontecimento, tornando-o estruturalmente rentável, comercializável, unidade de troca, assimilado ao sistema produtivo (…). Neste processo de industrialização do acontecimento, estarmos obcecados por estar sempre a acontecer algo não faz com que aconteçamos mais. (…) Parar nas coisas tornou-se um mal tão grave como uma improdutividade económica superlativa, levada a todas as dimensões do nosso existir. Pelo contrário, tornou-se imperativo fazer-nos acontecer muitas coisas, tudo à semelhança do imperativo económico de produzir mais e mais em menos e menos tempo.”
E se parássemos de sobreviver? - André Barata
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