Quando "inventaram" o reflexo na água do rio alguém nos deveria ter explicado como tudo funciona. Se o olhar for sem profundidade, se fizer ricochete na água, o espelho apenas nos aguarda, nos revê em queda. É o espelho criativo, inocente, pronto a dar as boas notícias de mais um dia, mesmo que ainda sejam do dia anterior. Já se o olhar tiver profundidade, se for feito de "ângulos agudos" como dizia o Cesário, ele atravessa o espelho. E com ele poderemos ver o olhar compreensivo dos peixes, a ondulação atrevida das algas, o sol a penetrar no mar (o sol só sabe olhar a cortar). Lição: o espelho que nos devolve com toda a grandeza e honestidade são as coisas que nos olham. E isso é fácil de comprovar. Basta ver o sorriso da senhora do café, o gesto gentil ou amarfanhado daqueles que connosco partilham a vida. Neles podemos ver-nos verdadeiramente, um espelho que sempre nos diz quão belos, rudes ou dourados estamos.
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