Há menos de um par de horas assistia, na expectativa de me fabricarem
uma emoção e de informarem de como vai ser o mundo depois do 14 de
Novembro, ao discurso de François Hollande perante os membros do
Parlamento francês. Disse que não esquecia os rostos dos mortos e das
famílias dos mortos, pediu para mudar a Constituição, cantou-se a
Marselhesa, explicou os ataques de ontem à Síria. Entretanto, pouco
depois, li este aforismo de Cioran, que começo timidamente a ler por
recomendação do Vasco e do Pedro:
O
que me estraga a grande Revolução é o facto de tudo nela se passar num
palco, de os promotores serem comediantes natos, e de a guilhotina não
passar de um cenário. A história de França, no seu conjunto parece uma
história feita por encomenda, uma história representada: tudo nela é
perfeito do ponto de vista teatral. É uma peça, uma sucessão de gestos,
de acontecimentos que são contemplados em vez de serem experimentados,
um espectáculo com dez séculos. Daí a impressão de frivolidade que nos
dá até mesmo o Terror, visto de longe.
Não
vou tão longe até porque nem queria correr o risco de me encherem a
caixa de comentários a dizer que sou insensível e coisas assim. Não é
aliás, de facto, disso que se trata. Trata-se apenas e tão só de
perceber de onde vinha esta minha sensação de que na boca de Hollande, as palavras "dureté"
et "impitoyable", para descrever as reacções
francesas ao ataque, não lhe fazem mexer os dentes. E, bem vistas as
coisas, ainda bem.
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