Augusto M. Seabra perguntou a Nanni Moretti se o conceito de
maturidade tinha hoje algum sentido para ele. Este disse-lhe que
maturidade enquanto mudança radical não, nem enquanto serenidade. Talvez
como maior tolerância, admitiu.
Pergunto-me em que momento a serenidade do estoicismo se terá tornado um exclusivo do clin d'oeil da meditação zen e do yoga prêt-à-porter
do ocidental à procura de uma portinha para descansar dos fumos e das
atribulações. Pergunto-me ainda sobre o momento em que a tolerância de
Voltaire se transformou num discurso máscara para o exterior, enquanto
se prepara a vendetta, na sombra de uma suposta maturidade, pessoal e civilizacional.
Não
me levem a mal, eu só queria ser tolerante, sereno e mudar
radicalmente. Mas maduro é que não. Reservo, por enquanto, tal qualidade
às frutas que, de tão tolerantes, ora se apresentam no grau mais elevado
da sua doçura, ora enegrecem e se preparam para desaparecer, lançadas à
terra.
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