Estando eu a experimentar, como já devem ter reparado, um processo de acelerada hanekização da minha corrente sanguínea, maço-vos com duas coisas que me andam a fazer macacos no sótão e que não têm nada a ver entre si. Uma, o espanto por saber que, apesar da exposição da violência se tornar mais e mais num acto conservador quando devíamos estar no campo da transgressão, Funny Games, resiste bem melhor ao tempo do que A Pianista. E eu que julgava o oposto. Duas, quando Haneke decide ser um pouco mais humano e filmar mais gente nos planos e menos pedaços deles (o materialismo bressoniano numa lógica calculista) em O Tempo do Lobo, talvez o mais fraco dos filmes do austríaco, não me sai da cabeça uma double bill com Snowpiercer de Bong Joon-ho. Neste as personagens a viver um pós-apocalipse querem parar o comboio e sair dele, ver o mundo; no filme de Haneke querem parar um comboio para entrar nele. Campo contracampo aparentemente inútil, eu avisei-vos.
domingo, 10 de maio de 2015
Hanekização
Estando eu a experimentar, como já devem ter reparado, um processo de acelerada hanekização da minha corrente sanguínea, maço-vos com duas coisas que me andam a fazer macacos no sótão e que não têm nada a ver entre si. Uma, o espanto por saber que, apesar da exposição da violência se tornar mais e mais num acto conservador quando devíamos estar no campo da transgressão, Funny Games, resiste bem melhor ao tempo do que A Pianista. E eu que julgava o oposto. Duas, quando Haneke decide ser um pouco mais humano e filmar mais gente nos planos e menos pedaços deles (o materialismo bressoniano numa lógica calculista) em O Tempo do Lobo, talvez o mais fraco dos filmes do austríaco, não me sai da cabeça uma double bill com Snowpiercer de Bong Joon-ho. Neste as personagens a viver um pós-apocalipse querem parar o comboio e sair dele, ver o mundo; no filme de Haneke querem parar um comboio para entrar nele. Campo contracampo aparentemente inútil, eu avisei-vos.
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