Há
uma obsessão extremamente difícil de qualificar em Close Encounters of the Third Kind. O facto da comunicação com os
seres extraterrestres ser por via musical, aquelas notas inocentes e
repetitivas, parece abrir caminho a uma ligação que abstratiza o contacto com o
desconhecido. Espaços há, naturalmente, nos quais todo o universo familiar, do
dilema e emoções do homem médio parece querer tomar conta do filme. Por exemplo,
uma das sequências iniciais na qual o rapaz que depois será raptado desperta e
vê a nave dos aliens. Ou a encenação do mundo infantil espelhado na forma como
dormem os filhos de Richard Dreyfuss. Mas é ainda cedo para que Spielberg
escolha um dos lados, o dele, o humano e comece a fabricar o tecido psíquico-familiar
que pôs em contato o imaginário de milhões de lares em todo o mundo. A relação
homem/alien, a antropomorfização pura que viria a ser parte do sucesso de ET, não é ainda um objectivo em Close Encounters. Mas nem o seu oposto:
apesar de apenas vermos o aspecto dos alienígenas perto do fim, a sua ausência
visual nunca é um veículo para nos por contra, como era o chavão no género até
então. Os encontros com esse inexplicável são antes fonte de um intermédio, de
qualquer coisa que produz quer a sensibilidade de uma comunicação musical
frágil entre seres de universos diferentes, quer a imposição de uma natureza obsessiva
que procura a arché até à loucura. A
origem vista quer como encontro primordial com o desconhecido, quer como
plataforma comum ao que une os seres. É pela sua musicalidade e pela sua
loucura que Close Encounters deve
ser lido na sua ambição épica de querer modificar a relação cinematográfica que
o humano tinha com seres de outros planetas. Por isso, Close Encounters, no trajeto Jaws - Close
Encounters - ET que vai de um “simplismo” hostil a um “simplismo” humanista, é
claramente aquele que já não vilifica mas também ainda não endeusa o desconhecido. Dessa
abstração tão honesta, de muitas luzes e música, parece que não há nada que tenha
restado imponente na história do cinema, história essa que insiste em marcar apenas os objetos
que afirmam ou se colocam nos extremos do espectro.
Sem comentários:
Enviar um comentário