sexta-feira, 6 de julho de 2012

Qual a música de um encontro?


Há uma obsessão extremamente difícil de qualificar em Close Encounters of the Third Kind. O facto da comunicação com os seres extraterrestres ser por via musical, aquelas notas inocentes e repetitivas, parece abrir caminho a uma ligação que abstratiza o contacto com o desconhecido. Espaços há, naturalmente, nos quais todo o universo familiar, do dilema e emoções do homem médio parece querer tomar conta do filme. Por exemplo, uma das sequências iniciais na qual o rapaz que depois será raptado desperta e vê a nave dos aliens. Ou a encenação do mundo infantil espelhado na forma como dormem os filhos de Richard Dreyfuss. Mas é ainda cedo para que Spielberg escolha um dos lados, o dele, o humano e comece a fabricar o tecido psíquico-familiar que pôs em contato o imaginário de milhões de lares em todo o mundo. A relação homem/alien, a antropomorfização pura que viria a ser parte do sucesso de ET, não é ainda um objectivo em Close Encounters. Mas nem o seu oposto: apesar de apenas vermos o aspecto dos alienígenas perto do fim, a sua ausência visual nunca é um veículo para nos por contra, como era o chavão no género até então. Os encontros com esse inexplicável são antes fonte de um intermédio, de qualquer coisa que produz quer a sensibilidade de uma comunicação musical frágil entre seres de universos diferentes, quer a imposição de uma natureza obsessiva que procura a arché até à loucura. A origem vista quer como encontro primordial com o desconhecido, quer como plataforma comum ao que une os seres. É pela sua musicalidade e pela sua loucura que Close Encounters deve ser lido na sua ambição épica de querer modificar a relação cinematográfica que o humano tinha com seres de outros planetas. Por isso, Close Encounters, no trajeto Jaws - Close Encounters - ET que vai de um “simplismo” hostil a um “simplismo” humanista, é claramente aquele que já não vilifica mas também ainda não endeusa o desconhecido. Dessa abstração tão honesta, de muitas luzes e música, parece que não há nada que tenha restado imponente na história do cinema, história essa que insiste em marcar apenas os objetos que afirmam ou se colocam nos extremos do espectro.

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