De
entre todas as artes, o cinema é aquela que, pelo seu carácter popular, mais vê
os seu críticos vulneráveis naquilo que é seu trabalho. Isto porque toda a gente vê muitos
filmes (em sala, em casa, no youtube, inteiros, às postas, etc.) e não há ninguém
que não esteja disposto a comentá-los, a expressar a sua opinião. Por isso,
qualquer espectador/leitor pensa estar munido das mesmas armas para poder “esgrimir
argumentos” (isto é bem eufemístico porque a maioria das pessoas não chega
sequer a esgrimir nada). O resultado é que aqueles que têm (ainda) por
profissão paga exercer crítica de cinema se vêem alvos de inúmeras críticas,
reparos, às vezes insultos (são uma espécie de árbitro do cinema a quem toda a gente assobia). Mas em
relação a isto, há-que dizê-lo (ou repeti-lo ad nauseum): o que separa J.
Hoberman do Zé Maria ou Jorge Mourinha do Emílio de Viseu são dois factores
muito objectivos. Por um lado, a quantidade de filmes que Hoberman e Mourinha
já viram (ou têm de ver semanalmente) e o Zé e o Emílio (que me perdoem...) podem
não ter visto. E por outro lado, separa-os a qualidade da prosa. É só isto. E
portanto faz sentido que a opinião do espectador médio esteja (em teoria),
menos qualificada para falar sobre um filme. Não é por mudar um pneu de vez em
quando que de repente toda a gente é mecânico.
Se
parece que estou neste ponto a defender a velhinha crítica (e estou), também
vos digo que a questão não morre aqui. Parte da revolta contra a critica não é
o que muitos querem fazer parecer, ou seja, uma mera onda de imbecilidade sem
freio. A conjectura profissional em que está inserida a maioria dos críticos
profissionais (de todo o mundo) torna-os permeáveis a elementos extemporâneos à
sua prosa. São constrangimentos económicos (a ditadura da informação, do fast
writing e slow thinking), corporativos, sociais (as amizades e inimizades que
prolongam a defesa de uma pessoa ou obra até à morte), etc, etc.. É sobre estes
pontos que considero justa e saudável alguma crítica da crítica.
E é
a pensar numa (quiçá) utópica possibilidade de uma escrita com menos
constrangimentos, e a esse título mais livre (e polémica, porque não?), que
decidi colaborar com outras pessoas no lançamento de um novo site de cinema. À pala de Walsh será um site de crítica,
crónica, com uns textos mais lúdicos, outros mais programáticos. O que une a
minha intenção à de João Lameira (numa
paragem do 28), Luís Mendonça (Cinedrio) e Ricardo Lisboa (Breath Away), os outros membros da
equipa, é criar uma rede de pensamento mais livre, e com alguma qualidade, que
tente ser alternativa ao que há. E há muita coisa, dispersa e de qualidade muito variável.
Qualquer
projeto abraçado com a melhor das intenções quererá mudar o mundo. O nosso não
foge à regra. Contudo, esse julgamento, o da criação de um espaço de conteúdos
imaginativos e sério que fomentem discussão informada sobre cinema, não nos
cabe a nós. Caberá ao leitor a partir de agora, com base no nosso trabalho, colocar À pala de Walsh, onde ele merecer.
Convido-vos
a ver o site (ainda um bebezinho), e sobretudo a acompanhar nos próximos tempos a sua evolução. Surgirão
muito em breve novos conteúdos, alguns colaboradores e também um ligeiro lifting do seu aspecto. E pronto, é assim
que começamos.
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